IMIGRAÇÃO ALEMÃ ENQUANTO APORTE PARA A DIDÁTICA DE PROJETOS NA TERCEIRA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL


FACULDADE DOM BOSCO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “Lato Sensu”
ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL COM ENFASE EM EDUCAÇÃO ESPECIAL







IMIGRAÇÃO ALEMÃ ENQUANTO APORTE PARA A DIDÁTICA DE PROJETOS NA TERCEIRA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL


ANILDO SCHMITZ


CASCAVEL - PR
2009



Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu da Faculdade DOM BOSCO, como requisito parcial para obtenção título de Especialista em Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental com Ênfase em Educação Especial.



SCHMIZ, Anildo. Imigração Alemã Enquanto Aporte Para a Didática de Projetos Na Terceira Série Do Ensino Fundamental/Anildo Schmitz – 2009 , 66 páginas.

Orientadora: Msc Dóris Maria Daufenbach Goedert, Doutoranda




“Como escolar (aluno e professor), eu tinha verdadeira aversão pela emigração, principalmente para o Brasil (...) mas seja como Deus quiser, aqui na Alemanha não havia futuro para mim (...) só no Brasil encontraria a felicidade (...) pois após o sofrimento vem a alegria.” (O Imigrante - Mathias Schmitz)

RESUMO
Busca-se com esta pesquisa, abordar o tema “Imigração Alemã” enquanto aporte para a didática de projetos na terceira série do ensino fundamental.Tem-se como objetivo apontar maneiras de utilizar a imigração alemã como aporte para a didática de projetos na 3ª série do ensino fundamental, para tanto, usou-se de metodologia científica com métodos adequados, sendo uma pesquisa qualitativa, bibliográfica, descritiva e pura. Justifica-se a pesquisa deste tema ao fato dele não integrar os conteúdos programáticos do currículo da série, que merece ser tratado com mais atenção. Por fim, teve-se como resultados mais expressivos a confirmação de que os livros didáticos, mencionam fragmentada e descontextualizadamente o tema. Percebe-se que as etnias europeias, especialmente a alemã, foram importantíssimas na formação do povo catarinense, mas a alemã foi a que deixou as mais profundas marcas, nos setores econômicos, sociais e culturais do estado. Vê-se ao longo deste que para melhor trabalhar o tema é importante o uso de projetos de trabalho, juntamente com as tecnologias disponíveis, sejam elas antiguidades ou novas tecnologia, pois se bem utilizadas aparecem como ferramentas indispensáveis no auxilio da elaboração e reelaboração reflexiva de conceitos sobre o tema e seus subtemas. Os projetos pedagógicos podem levar a uma abordagem democrática de um tema que deixa de ser um “caroço” no currículo para fazer parte de projetos interdisciplinares. Esta não é a única abordagem possível, mas certamente é a forma mais adequada para introduzir um tema que não pode ser esquecido tanto por descendentes quanto por não descendentes dos imigrantes alemães.

Palavras-chave: Imigração Alemã. Tecnologias educacionais. Interdisciplinaridade.



1- INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico procura estudar um pouco o tema “Imigração Alemã” num enfoque enquanto aporte para a didática de projetos na terceira série do Ensino Fundamental e apontar maneiras de trabalhar o tema nesta série, uma vez que este é pouco abordado pelos conteúdos, não só desta, mas de todas as séries deste nível de ensino. Diante da constatação de que o tema não é explorado, sentia-se a necessidade de introduzi-lo nos trabalhos da série em questão.
A pesquisa procura investigar formas de trabalhar o tema através de projetos interdisciplinares de trabalho. Ao mesmo tempo em que procura apresentar formas de trabalhá-lo, traz informações importantes sobre os movimentos migratórios, ou melhor, da imigração europeia para o Brasil e principalmente da imigração alemã para a Região Sul do Brasil, mais precisamente para Santa Catarina, tentando apresentar motivos para a escolha desta região em detrimento das do País. Apresenta, ainda, como era atraída a população, bem como o sentido não pejorativo do termo “colonização” semelhante ao que normalmente é utilizado para classificar a colonização portuguesa no Brasil.

Não esquece de se reportar a formação miscigenada do povo catarinense e da importância desta grande mistura na formação da cultura do estado. No contexto geral, evidencia sempre a imigração alemã, mas faz referências a importância das demais etnias.
A pesquisa é fundamentada em autores, consagrados, de livros didáticos e de historiadores de renome. Vem tentando reunir os pequenos fragmentos de autores de livros didáticos em um único trabalho, e confrontá-los com a opinião e a informação de historiadores descompromissados com ideologias, políticas governamentais e com interesses particulares; apenas comprometidos com a realidade pesquisada.
Diante disto, da quase não contemplação do tema entre os conteúdos didáticos e
frente a necessidade de despertar o interesse dos alunos para o tema “Imigração Alemã”, considera-se importante apontar maneiras de introduzi-lo como um tema a ser utilizado como aporte para a didática de projetos na série em questão.
Tem-se então como hipótese, que fazendo uso do velho quadro de giz, relacionar nomes e sobrenomes dos alunos e a partir destes, abordar a Imigração Alemã e seus motivos. Todo isto, atento ao fato da necessidade de contemplar as demais etnias que fizeram parte da colonização brasileira, cada qual com suas peculiaridades, mas de igual importância.

1.1 Justificativa do tema
Compreende-se de extrema importância à realização desta pesquisa, uma vez que no Estado de Santa Catarina, é grande a presença da etnia alemã. Tal se faz fortemente presente na cultura, na gastronomia, na maneira de falar e nas festas tradicionais da região do Estado onde se fazem presentes.
O tema é pouco explorado nas escolas, tanto públicas quanto privadas, que quando muito é mencionada junto aos movimentos migratórios, sem entrar em detalhes do processo imigratório acontecido no estado catarinense e nem destacar a Imigração Alemã como fator importante na colonização da então Província de Santa Catarina e consequentemente na formação do povo catarinense. Sempre que o tema é abordado em livros didáticos, estes o apresentam como um simples movimento colonizador, sem mencionar que este, não só em Santa Catarina, mas em toda a região Sul do Brasil teve
características especificas e que não aconteceu espontaneamente.
Em momento algum, estes mostram os verdadeiros motivos que levaram uma população razoável a mudar em massa para uma mesma região de um país ainda em fazer de formação. Outro motivo é o fato de Santa Catarina, ou melhor, os intimamente ligados ao tema “Imigração Alemã”, e aqui se lê os municípios surgidos de antigas colônias de imigrantes germânicos, estarem em plena comemoração dos 180 anos da chegada dos primeiros colonizadores alemães e o fato merecer pouco destaque na mídia do Estado. Além disto, destaque deve ser dado ao fato de que grande parte da população, oriunda destes, não saber sua verdadeira origem, muito menos saberem o que levou seus antepassados a abandonarem a terra natal e empreender uma verdadeira aventura para o meio da Mata Atlântica. As crianças em idade escolar nem ao menos tem uma vaga noção da origem de seus, muitas vezes, estranhos sobrenomes e principalmente desconhecem seu verdadeiro significado, no que não podem ser auxiliados por seus pais, igualmente desconhecedores.

1.2 Problema de pesquisa

Santa Catarina possui características marcantes influenciadas pela colonização alemã que se faz presente em todos os setores, desde a economia até na cultura do estado. Além disto, é possível constatar, nas escolas da região, o grande número de sobrenomes germânicos, muitos já abrasileirados, e os traços culturais desta etnia, presentes na sociedade catarinense.
Percebe-se também que embora nas escolas se trabalhe a colonização brasileira, são raras as menções à imigração alemã, e ainda assim muito fragmentada e pouco contextualizada, uma vez que o tema não faz parte dos conteúdos que normalmente são tratados na 3ª série do ensino fundamental. Como tal, os livros didáticos usados, raramente se dirigem ao tema e quando o fazem é de forma muito vaga. Justamente por isto se faz necessário encontrar caminhos e formas de abordá-lo e introduzi-lo como um tema importante a ser investigado pela série em questão possibilitando a compreensão de como os fatos ocorreram, ou seja, perseguir caminhos que levem a “maneira introduzir a imigração alemã enquanto aporte para a didática de projetos na 3ª série do ensino fundamental” que possibilite a compreensão do processo e conseqüente elaboração de conceitos a respeito. Desta forma questiona-se – De que maneira introduzir a “Imigração Alemã” como aporte para a didática de projetos na 3ª série do ensino fundamental?
Neste sentido, as perguntas de investigação que direcionaram o presente estudo foram:

1. Quais ferramentas necessárias para utilizar o tema, imigração alemã, no processo de aprendizagem da 3ª série?
2. Quais motivos ou razões para utilização do tema “Imigração Alemã” na 3ª série do ensino fundamental em detrimento de outras etnias?
3. Como o tema, imigração alemã, pode contemplar as várias disciplinas?
O problema está delimitado do início da Colonização Alemã em Santa Catarina, mais precisamente 1828 até 1920, com algumas referências ao primeiro decênio de 1800, para melhor entendimento dos fatos.

1.3 Objetivos

A pesquisa buscou identificar os seguintes objetivos: geral e específicos.

1.3.1 Objetivo geral
Nesta pesquisa o objetivo geral é apontar maneiras de introdução e utilização da imigração alemã enquanto aporte para a didática de projetos na 3ª série do ensino fundamental.
1.3.2 Objetivos específicos

1. Identificar ferramentas a serem utilizadas no processo de aprendizagem para abordar o tema, imigração alemã, na 3ª série do ensino fundamental.
2. Relatar motivos de utilizar a imigração alemã em detrimento de outras etnias sem excluí-las.
3. Apontar maneiras de contemplar as várias disciplinas com o tema, imigração alemã.

1.4 Metodologia geral da pesquisa
Pesquisa qualitativa, bibliográfica, descritiva e pura.
Qualitativa, pois considera uma relação entre a realidade e o sujeito da pesquisa, é uma opção do pesquisador e tem a função de tentar entender a natureza de um fenômeno social, mas que poderia ser investigado por outro enfoque, neste caso o fenômeno e sua possível utilização por alunos de séries iniciais do ensino fundamental em sala de aula.

A abordagem qualitativa de um problema, além de ser uma opção do investigador, justifica-se, sobretudo, por ser uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social. Tanto assim é que existem problemas que podem ser investigados por meio de metodologia qualitativa, e há outros que exigem outros enfoques. Richardson, (1999, p. 79)

É também uma pesquisa bibliográfica pelo fato de se basear unicamente em livros, ou seja, pesquisa somente autores, tanto de livros didáticos quanto de obras de historiadores, que em algum momento já pesquisaram e escreveram sobre o tema em questão. Procura analisar e conhecer o assunto e suas contribuições para o uso do tema
em classe sempre a partindo de materiais anteriormente elaborados e de autoria confiável.
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. (...) A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Esta pesquisa se torna particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos no espaço. Gil, (1999, p.65)

Descritiva, pois visa descrever o fenômeno, e no caso deste trabalho monográfico à preocupação é exatamente em descrever formas de possível aplicação do objeto de pesquisa, bem como quando, onde, onde e porque os fatos aconteceram. Os resultados da aplicação não fazem parte desta, mas mantendo a preocupação de não manipular os fatos em favor deste ou daquele e não interferir no resultado da pesquisa.
Gil (1999, p.42) afirma que esta tem como primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações variáveis. Assegura que são inúmeros os estudos que podem ser classificados sob o título e uma de suas características mais significativas, sta na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. Destaca ainda que:
Dentre as pesquisas descritivas salienta-se aquelas que têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, nível de renda, estado de saúde física e mental, etc. Outras pesquisas deste tipo, são as que se propõem estudar o nível de atendimento dos órgãos públicos de uma comunidade, condições de habitação de seus habitantes, o índice de criminalidade que aí se registra, etc. São incluídas neste grupo as pesquisas que têm por objetivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma população. Também são pesquisas descritivas aquelas que visam descobrir a existência de associações entre variáveis, como, por exemplo, as pesquisas eleitorais que indicam a relação preferência político-partidário e o nível de rendimento ou escolaridade. Gil (1999, p. 42)
Pura, pois não se preocupa de forma direta ou indireta com suas aplicações nem com suas conseqüências práticas. Sobre este tipo de metodologia Gil, (1999, p. 42) relata que a pesquisa pura busca o progresso da ciência, procura desenvolver os conhecimentos científicos sem a preocupação direta com suas aplicações e conseqüências práticas. Seu desenvolvimento tende a ser bastante formalizado e objetiva à generalização, com vistas na construção de teorias e leis.

1.5 Estrutura do trabalho

O trabalho está organizado da seguinte forma:
Na primeira seção, a introdução, apresenta-se um pequeno texto que busca justificar a escolha do tema “Imigração Alemã” no Estado de Santa Catarina em detrimento de outros temas e de outras etnias que igualmente contribuíram na colonização e na formação do povo catarinense, seguido da justificativa, problema, objetivo geral e objetivos específicos, metodologia da pesquisa e estrutura do trabalho.

Na segunda seção, o desenvolvimento, relata-se algumas ferramentas que podem auxiliar, tanto escola quanto e professores, nos trabalhos pedagógicos do tema abordado além de destacar a importância que alguns autores dão ao uso de projetos de trabalho que permitam a interdisciplinaridade nas escolas. Ainda nesta seção desenvolve-se uma pesquisa sobre o tema e os verdadeiros motivos que levaram a imigração em massa, da Europa para o resto do mundo e em especial dos países germânico para o Brasil, bem como o que os atraiu em uma terra distante, desconhecida e normalmente conhecida como tão cheia de perigos.

Na terceira e última seção, considerações finais e sugestões estão tecidas as falas finais deste autor em resposta a pesquisa elaborada no tema Imigração Alemã enquanto aporte para a didática de projetos na terceira série do ensino fundamental, onde se percebeu que o tema não é muito abordado por falta de conhecimento dos envolvidos no processo educativo e dos próprios descendentes em questão. Mas vê-se que é possível, dentro de uma nova prática, através de projetos democráticos de trabalho e de forma não conteudista, trabalhar o tema buscando informações junto ao próprio grupo de aprendentes que acabam se empolgando e fazendo um verdadeiro trabalho de pesquisa e resgate das origens. Ou seja, é perfeitamente possível trabalhar democrática e interdisciplinarmente todos os conteúdos que a escola normalmente trabalha dentro do tema utilizando-se da didática de projetos.

2 DESENVOLVIMENTO

Faz-se nesta seção, uma abordagem sobre projetos de trabalho e tecnologias educacionais como ferramentas para utilização do tema “imigração Alemã” no processo ensino aprendizagem da terceira série do ensino fundamental. Procura-se abordar o tema e o uso pedagógico do mesmo junto aos alunos e a importância da interdisciplinaridade para um ensino democrático e globalizado. Apresentando questões teóricas atuais consideradas relevantes para o estudo que enfoca como tema principal “Imigração Alemã” e o uso deste tema como aporte para a didática de projetos de trabalho.

2.1 Ferramentas para utilizar a imigração alemã no processo ensino aprendizagem da 3ª série.
Tudo que o professor utiliza para levar seu grupo a elaboração de novos conhecimentos e conceitos pode e deve ser considerado como ferramentas de trabalho. Assim, entre os profissionais da área, encontra-se os que defendem os projetos de trabalho. Entre estes estão Hernandes e Ventura (1998, p.22), para quem a proposta de Projetos de Trabalho significou, uma continuidade na reflexão sobre a prática pedagógica individual e coletivas de um grupo de pessoas que ensinam, que se traduziu na participação em diferentes cursos de formação, na publicação de materiais didáticos e numa forte dose de discussão e de debates no seio do professorado sobre questões que afetam as práticas de ensino e aprendizagem, (...)

Esta prática, de acordo com o entendimento dos supra citados, só se torna possível única e exclusivamente entre aqueles profissionais que nunca estão totalmente satisfeitos com suas realizações na área em que atuam, e por serem dotados de forte espírito inovador e criativo, estão sempre tentando inovar o trabalho pedagógico. É com este espírito que se pode “levar adiante um trabalho de revisão da prática pedagógica” individual e coletiva, bem como, gerar uma forte reflexão sobre esta prática e suas conseqüências. Mesmo para estes profissionais classificados como inovadores, criativos, insatisfeitos, torna-se imprescindível, que haja mudanças conceituais compostas por desordenação ou desordenamento e questionamento da prática para conseqüente reordenação com a introdução de novos referenciais.

Santomé (2009) refere-se a estes profissionais dizendo que em todo projeto curricular pedagógico é possível a organização em várias formas que não apenas a tradicionalmente fragmentada por disciplinas isoladas. Uma das opções é a organização curricular na forma de projetos capazes de contemplar interdisciplinarmente todos os conteúdos sem que para isto tenha que fazer uso da fragmentação. E esta escolha somente o profissional da educação pode fazer. Pois Atarcão (2009) faz lembrar que é unanimemente reconhecido, nos discursos oficiais que a educação é a maior, senão a única, fonte de desenvolvimento humano, social e econômico de uma região, estado, país ou mesmo de toda a humanidade. E que nesse desenvolvimento, ao professor, cabe o papel de fundamental destaque. Como é comprovadamente certo que nada se aprende sem esforço, aí está o papel principal do professor, ou seja, é necessário que esteja apto para democraticamente envolver os aprendentes no projeto. Este será sempre o tipo de professor indispensável.

O trabalho com projetos pedagógicos valoriza muito o saber já elaborado pelo aluno e tudo aquilo que já aprendeu ou aprende não por transmissão, mas por dedução, embora necessite da mediação e complementação do professor que deverá ser capaz de levá-los a conexão entre teoria e prática, entre o já conhecido e o recém descoberto. É também o professor quem sinaliza se o caminho das buscas está correto, se o resultado é satisfatório ou necessita de complemento com novas buscas. Leva, portanto a reflexão de que a aprendizagem por descoberta é uma boa maneira de internalizar conceitos.

Esse modelo de aprendizagem considera fundamental partir de uma atividade, a partir da qual os alunos desenvolvem uma estratégia de indução que lhes permita, desde suas experiências imediatas tratar de buscar por si mesmos, respostas a suas necessidades e a informação requerida para complementá-las. As críticas em torno deste modelo de aprendizagem foram realizadas, sobretudo, em torno da hipótese de que nem tudo pode ser aprendido por descoberta, e ao risco que implica pensar que cada aluno ou aluna deva reiniciar, de maneira individual e segundo suas necessidades, sua aprendizagem em questões e temas que já são parte do patrimônio dos saberes compartilhados e organizados. Hernandes e Ventura (1998, p. 26)
Tanto professores quanto escola, dentro de um trabalho com projetos, estão propondo uma forma reflexiva de ensinar, pois, segundo os supracitados, a relação entre ensino e aprendizagem gira em torno do tratamento que é dispensado à informarão em questão. É necessário que o docente esteja consciente de que numa sala de aula é possível trabalhar qualquer tema ou problema, desde que devidamente contextualizado e que certamente estes levarão para outros a serem investigados. O maior desafio reside em como abordá-los num trabalho sério sem estabelecer previamente o que será aprendido com eles. Os supra citados deixam claro que para tanto, se faz necessário uma mudança radical de uma maneira conteudista de ensino para uma forma globalizada do ato de ensinar, pois é comprovadamente correto que o aluno aprende melhor e se dedica mais ao processo de aprendizagem quando já conhece ou no mínimo tem noção do tema que está sendo trabalhado, quando este se torna significativo às informações ou conhecimentos que já domina. Além disto, os projetos levam a uma aprendizagem significativa gerada por um processo verbal, nele dominante, que leva o aluno a defender ou criticar as descobertas, dando margem a elaboração de novas hipóteses e novos conceitos a partir dos já elaborados. Levam a um verdadeiro intercâmbio de conhecimentos entre professores e alunos que conseqüentemente leva a transformação de experiências sociais em aprendizagem coletiva.

(...) há situações de diferentes complexidades, para cuja compreensão se requer manejar amplos conjuntos de informação, como é o caso de algumas explicações históricas, geográficas ou sobre o universo, nos quais não se torna possível detectar e sistematizar seu processo de compreensão, ao contrário do que acontece com noções que têm um caráter mais estável como são, por exemplo, as que estão em torno do número, da quantidade, da conservação dos líquidos, algumas categorias históricas ou as que giram em torno da aprendizagem da língua escrita. Hernandez e Ventura (1998, p.33,34)
Os supra citados, 1998, p.36, ainda destacam a necessidade de avaliação do trabalho com projetos e escrevem que na base da avaliação do trabalho, e posteriormente à organização da ação realizada dentro da sala de aula, utiliza-se para sistematizar em toda sua complexidade, e não de uma forma restritiva (...), a riqueza e a variedade de conceitos, procedimentos, valores, atitudes e normas que se trabalham na sala de aula. E vão além, ao trabalhar projetos, o desenvolvimento curricular não acontece de forma linear por disciplinas. Neles alunos e professores utilizam-se da ferramenta denominada “linguagem” (matemática, visual, comunicativa, científica, histórica) que servirão para interpretar as informações adquiridas. Este tipo de trabalho, já em seu planejamento, prevê ainda flexibilidade maior que o trabalho fragmentado e permite aprofundar a interdisciplinaridade dentro do tema do projeto.

Além do mais, trocando-se a passividade do aluno pela interação e o envolvimento com o projeto, este poderá sempre valer-se do auxílio do professor mediador e facilitador em todas as suas etapas, tem-se alunos motivados a trabalharem na busca de conhecimentos e esclarecimentos mesmo de um tema transversal. Baffi (2009), esclarece que não se pode permitir que um tema transversal, seja ele qual for, seja visto e tratado como se fosse um “caroço” que de repente aparece no meio dos conteúdos escolares de uma série.

E é assim que o tema “Imigração Alemã” vem sendo tratado. O professor normalmente dá uma parada para uma explicação rápida, superficial e descontextualizada, eliminando o famoso caroço, e segue em frente sem que a maioria dos alunos entenda ou tenha oportunidade de desenvolver algum conhecimento sobre o que foi tratado.

2.1.1 Utilizando as novas tecnologias educacionais
Sabe-se que atualmente um recurso bastante utilizado nas escolas é a informática. Mesmo se a escola ainda não estiver equipada com tal recurso, os alunos já o utilizam largamente e o professor precisa saber como utilizá-la em seu dia a dia.

Os impactos sociais da informática, conquista da ciência e da tecnologia, são capazes de levar uma transformação maior que a máquina a vapor. uma sociedade baseada cada vez mais na troca de valores simbólicos, do dinheiro à informação, vai mudar o eixo da economia, acabar com o conceito atual de trabalho, valorizar mais que tudo o conhecimento e a aprendizagem. Seabra (2009)
Neste contexto o acima citado afirma que a Internet é dotada de um inestimável potencial inovador. Tão grande que permite, mesmo dentro de uma sala de aula, ultrapassar suas paredes e ganhar o mundo. Permite uma constante troca de idéias e informações entre alunos de qualquer parte do mundo, bem como, o intercâmbio de idéias, conhecimentos, informações e o compartilhamento de experiências entre educadores e entre estes e os próprios aprendentes sem que haja o impedimento de fronteiras. Oportuniza o acesso a banco de dados locais, nacionais e internacionais e apresenta novos desafios tanto aos alunos quanto aos professores.

Introduzindo as novas tecnologias na rede de ensino e assegurando políticas de acesso a elas, o sistema educacional estará promovendo a preparação das novas gerações para um mundo moderno e dinâmico, onde cada vez mais é necessário um saber globalizado e não mais com a tradicional fragmentação do especialista em uma área específica em detrimento das demais.

Isto gera, ainda seguindo o raciocínio de Seabra (2009), novos desafios aos educadores, mas não os exclui do sistema. Pelo contrário, cada vez mais exige que os profissionais da educação se preparem para agir como bons facilitadores, motivadores, orientadores e mediadores na vida de candidatos que trilham os caminhos da busca de novos conhecimentos. É o educador quem poderá e deverá classificar os conteúdos acessados, pois é evidente que todo conteúdo eletrônico poderá ser manipulado e desvirtualizado. O aprendente busca as informações e o mediador precisa acompanhar e certificar-se da idoneidade das fontes pesquisadas.

Seabra (2009) é categórico ao afirmar que não há máquina capaz de substituir o professor a não ser que este o permita e mereça ser substituído. Logo, tudo aquilo que a escola sempre utilizou: quadro de giz, lápis, borracha, caderno, caneta, bem como uma simples lata de água, um pedaço de madeira, um saco com argila, uma caixa com folhas e o velho diálogo do professor continuam sendo importantes e indispensáveis tecnologias educacionais. Mas a principal mesmo é a boa preparação do educador (e nada é capaz de superar isto) para o bom uso, tanto das antiguidades quanto das modernidades. Só a preparação permitirá que o professor faça o que se espera dele, que saiba orientar sobre onde os educandos possam buscar as informações e, uma vez encontradas, como utilizá-la das melhores formas.

Neste contexto, o importante não é a quantidade de informações “inúteis”, mas sim a qualidade destas informações, pois ainda conforme Seabra, numa cabeça vazia de inutilidades há um espaço enorme e maravilhoso para ser ocupado com idéias criativas. O mesmo, afirma ainda que é importante tomar cuidados para não cair nas armadilhas da “ditadura dos conteúdos”, que tantas vezes tem servido de justificativa para a falta de inovação nas ações pedagógicas tanto do professor quanto da própria escola. Pois mais vale um aluno entender bem e profundamente cinco princípios básicos da física, por exemplo, do que entender nada de 150. Ou seja, mais vale aprender menos conteúdos e aprender a ter prazer com o uso do seu intelecto, apreciar as pesquisas, ler por conta própria e descobrir as demais informações, usando o professor como um consultor para suas dúvidas e jamais tê-lo como o dono do saber e da verdade. Este princípio vale para qualquer tema a ser abordado.

2.2 Uso pedagógico da imigração alemã em detrimento de outras etnias

Para introduzir o tema “Imigração Alemã” como um tema integrante dos conteúdos da terceira série do Ensino Fundamental e permitir que os alunos destas séries possam realmente debater e investigar sobre o referido tema, se faz necessário um primeiro entendimento do que é imigração, o que é movimento migratório, e o que é colonização.

Segundo Quevedo, Ordoñez e Sales, 1997, o termo imigração é utilizado para indicar a entrada de elementos estrangeiros em um determinado país, com a finalidade de nele fixar residência.
Assim sendo, a imigração faz parte dos movimentos migratórios nos quais as pessoas se deslocam de uma região para outra. Estes movimentos normalmente estão ligados a fatores sociais, econômicos, naturais ou religiosos e interferem diretamente no crescimento populacional e econômico da região onde acontecem, também interferem significativamente nos hábitos e costumes da população em geral, e mais especificamente daqueles que passam a conviver diariamente (e aqui se enquadram tanto os que chegam quanto os que já residem na região) com novos hábitos sociais.

Quem migra é migrante, aquele que muda de uma região, que não mora no lugar onde nasceu. Todo migrante leva consigo os valores,os hábitos, os costumes, as tradições da região onde mora, adaptando-os ao novo lugar, que pode ter outros costumes e tradições. Marim, Quevedo e Ordeñez (2001.p.93)
Leandro Brito (2009) também afirma que Migração ou movimento migratório é o deslocamento da população, ou de parte dela, de um lugar para outro. Os deslocamentos populacionais podem ser definitivos ou temporários. Afirma também que os movimentos migratórios podem ser externos ou internos. Os movimentos migratórios internos são aqueles que acontecem dentro do próprio país ou região, sem que para isso envolvam elementos de outros países. Já os externos, são os movimentos denominados

Emigração (caracterizado pela saída de elementos do país de origem) e Imigração (este caracterizado como a entrada de pessoas estrangeiras em um país que não o de origem).

Enquanto isto, Melgar (2009) afirma que os deslocamentos populacionais costumam obedecer a uma lógica relativamente simples. As populações migram, quando as condições de vida não lhes parecem favoráveis em um determinado lugar, região ou país, ou seja, para melhorar a qualidade de vida. Migram tentando fugir de uma guerra, de uma crise econômica, da pobreza, de perseguições políticas, questões religiosas, das secas e de outros cataclismos naturais como o perigo oferecido constantemente por vulcões, terremotos, vendavais ou inundações. Migram ainda para conseguir emprego, para estudar, para ter mais saúde, para continuarem vivas, para permanecerem em liberdade.

Muller (2008 p. l9), ressalta que a colonização européia ocorrida a partir do século XIX no país, e aí se inclui a colonização alemã em Santa Catarina, tem um sentido diverso daquele pejorativamente utilizado nas relações entre Portugal e Brasil. Enquanto neste o colonizador objetivava extrair da colônia o máximo de resultados, com o mínimo de investimentos possível e de manter o domínio pela exploração e submissão econômica, quando se fala em imigração européia e em especial a alemã em Santa Catarina, ainda segundo Muller (2008), o sentido de “colonização” é exatamente o ato de imigrar. Ou seja, ato de fixar residência em um país desconhecido e trazendo consigo toda a família, juntamente com todos os seus hábitos culturais e sociais.

Para melhor entender, ou para bem entender a história de Santa Catarina e em especial a da imigração, é, segundo Fiori e Lunardon (2004), importante conhecer o significado da palavra “colonização” como sendo toda e qualquer iniciativa que tenha como objetivo o povoamento de uma região, seja ela de iniciativa governamental ou privada, confirmando assim a explicação de Muller (2008) do parágrafo anterior. Portanto, povoamento e colonização se completam, ou melhor, caminham juntos. Assim, é correta a afirmativa de que “colono” é todo habitante ou o trabalhador da colônia. O termo tão utilizado fez com que mesmo após a independência, todo imigrante continuasse a ser chamado de colono. Mesmo aqueles que adquiriram suas próprias terras, e não foram poucos, levaram consigo o título de “colono”. A nomenclatura se tornou tão importante no povoamento do Brasil a ponto de merecer uma homenagem especial.

Em todo o dia 25 de julho costuma comemorar-se o Dia do Colono. A data foi escolhida pelo fato de, em 25 de julho de 1824, ter sido fundada a Colônia de São Leopoldo (atual cidade de São Leopoldo – RS), considerada como o primeiro núcleo de imigração estrangeira, no Brasil, que teve reconhecido êxito. Fiori e Lunardon (2004, p.167)
Conforme segue, vê-se que o processo imigratório no Brasil não aconteceu por acaso, nem mesmo a revelia. Teve, na maioria das vezes, a intervenção e o incentivo do governo que deu os primeiros passos. Tanto que por intermédio de um edital expedido em 25 de novembro de 1814, o Príncipe Regente, Dom João VI, convida os europeus para imigrarem para o Brasil.

O início do processo de colonização do Brasil, com destaque para a região sul, foi uma decisão política promovida por Dom João VI. Após a tentativa de Pombal com os portugueses (açorianos), o governo incentivou a colonização estrangeira para, entre outras coisas, promover a dilatação do vasto Reino, ocupar vazios demográficos (objetivo estratégico), produzir alimentos (fins econômicos), mas, basicamente, para instituir uma classe de pequenos proprietários rurais, até então praticamente inexistente no Brasil. A abertura dos portos, no memorável dia 28 de janeiro de 1808, teve, por conseqüência, a vinda de inúmeros estrangeiros para o Brasil. Principalmente europeus. Por isso, um edital do Príncipe Regente, de 1808, permitia a imigração de não-portugueses, além de dispor sobre a concessão de terras a católicos de outras nacionalidades -- as chamadas sesmarias. Assim, baseado na pequena propriedade familiar, a imigração alemã esteve estreitamente vinculada ao sistema de colonização brasileiro, cuja política pautou-se na existência de conflitos nas fronteiras internacionais devido às grandes áreas de terras devolutas consideradas desabitadas - apesar da existência de grupos indígenas e posseiros. Jochem, (19-04-2009).

Jochem (1997 p. 57,58) relata que, de acordo com o estabelecido pela carta régia datada de 6 de maio de 1818 (carta que serviu de modelo para muitos contratos posteriores), o governo brasileiro reservava concessões substanciais a cada família de imigrantes, tais como: passagem livre por mar e por terra até o lugar de destino; a cada família de três a quatro pessoas cabia, por doação feita pelo governo brasileiro, um terreno equivalente a 75 hectares de terra, uma casa provisória, um boi de tração ou um cavalo, duas vacas leiteiras, quatro ovelhas, duas cabras, dois porcos, sementes de trigo, feijão, arroz, milho, linho cânhamo e óleo de rícino para lâmpadas. Oferecia ainda isenção de impostos por dez anos e, não importando a nacionalidade, tão logo instalados na colônia, na qualidade de súditos do Rei, lhes era conferida a nacionalidade portuguesa.

Em contrapartida, os imigrantes deveriam pagar as taxas sobre mercadorias comerciáveis, perderiam os direitos às terras doadas caso viessem a deixar a colônia antes dos dez anos e, caso encontrassem ouro, um quinto seria por direito, da coroa. Por intermédio desta mesma carta eram admitidos apenas imigrantes católicos, e cada grupo deveria trazer um médico, farmacêutico e dois a quatro religiosos. O governo brasileiro comprometia-se a construir e equipar uma capela.

Quevedo, Ordoñez e Sales (1997) afirmam que a sociedade catarinense, assim como toda a brasileira, é uma grande mistura étnica. Começou com a miscigenação entre indígenas e colonizadores portugueses, mais tarde vieram os cruzamentos destes com os negros e por último os imigrantes de várias etnias, e entre eles os alemães. Ainda segundo Quevedo, Odoñez e Sales, embora os primeiros imigrantes tenham chegado ao Brasil, ainda no governo do Rei D. João VI, foi durante o império que em Santa Catarina a imigração européia, especialmente a alemã, deixou suas maiores marcas.

Nas múltiplas atividades cotidianas, quando circulamos em alguns dos municípios catarinenses ou quando nos deparamos com suas peculiaridades determinadas pelas florestas, montanhas, rios, nem sempre nos damos conta que estamos numa região geográfica cujo traço mais marcante é a sua pluralidade étnica, responsável pela composição do perfil cultural eclético e multifacetado do estado de Santa Catarina. Ao longo de sua história, passando pelos açorianos, tropeiros que levavam gado do sul para São Paulo, africanos, imigrantes alemães e italianos que ocuparam os vales litorâneos, colonos gaúchos que se instaram no Oeste e Meio-oeste e por poloneses, ucranianos, tiroleses, árabes, gregos, belgas, franceses, suíços..., formou-se um mosaico cultural extremamente diversificado, somente encontrado em poucos estados brasileiros. E nessa composição cultural, a contribuição da etnia alemã está completando 175 anos de presença efetiva no estado de Santa Catarina. Seu início se deu em 1829, a 1º de março, com a fundação da colônia São Pedro de Alcântara. Localizada na região da grande Florianópolis e emancipada político-administrativamente em 1994, seu desenvolvimento pode ser dividido em quatro fases históricas. Jochem (2009)


De acordo com Quevedo, Odoñez e Sales (1997, p.42), 1822, foi o ano em que o Imperador D. Pedro I elaborou o projeto de colonização com imigrantes alemães, de terras desabitadas pelo interior do país. Seu objetivo não era apenas ocupar terras incultas, mas sim desenvolver agricultura, pois segundo Fiori e Lunardon, (2004, p.156), no sul do Brasil, havia grandes áreas de terra formando vastas regiões desabitadas e isoladas.

Estas terras estavam sem qualquer tipo de defesa uma vez que não contavam com qualquer posto avançado do exército, nem ao longo dos caminhos e nem nas pequenas cidades caracterizando total falta de proteção e consequentemente deixava as fronteiras brasileiras desguarnecidas. Um franco convite para invasões provenientes da Argentina e países vizinhos. Tornava-se urgente, para proteção destas áreas, a ocupação destes territórios. Claro que havia grupos indígenas circulando pela região, mas estes não ofereciam qualquer tipo de proteção ao território brasileiro. Além do mais, ainda de acordo com Fiori e Lunardon (2002, p.155, 156), era urgente o aumento na produção de alimentos devido o crescimento populacional brasileiro e ao mesmo tempo o Brasil, especialmente a Região Sul, era possuidor de vastas terras agricultáveis, “era importante, pois, que o país pudesse contar com o trabalho de pequenos agricultores, os europeus em geral e os alemães em especial, conhecedores e dominadores de diferentes técnicas agrícolas, eram vistos como colonizadores perfeitos os quais poderiam aumentar a produção de alimentos”.

Muller (2008) ressalta também que em meados do século XIX o Brasil enfrentava sérios problemas econômicos, em parte devido a falta de estímulos a produção. Santa Catarina, igualmente, enfrentava os problemas vivenciados por todo o país, estes ainda agravados pela queda na indústria baleeira, restando para a economia da Província, apenas a fraca agricultura baseada quase que exclusivamente na cultura da mandioca. A única alternativa econômica da Província vinha sendo prejudicada, pois seu produto final, a farinha, era largamente utilizada para abastecer as tropas do governo e nem sempre pagas, enfraquecendo ainda mais a já frágil economia provincial.

... pois seu produto final, a farinha largamente consumida, era o alimento que desde o século XVIII mantinha as tropas portuguesas e brasileiras de pé e o infeliz produtor de cócoras, pois o produto era permanentemente solicitado pelo governo para alimentar as tropas e os pagamentos eram efetuados muito tempo depois, isso se fossem pagos. Muller (2008, p.20)

Era necessário fazer a Província produzir e tornar-se auto-suficiente. Neste momento, segundo Muller (2008), em 07 de novembro de 1828, chegam os primeiros alemães, que no ano seguinte são estabelecidos na Colônia de São Pedro de Alcântara. Esta se tornou ponto de referência para a criação das demais colônias de imigrantes.

No quadro abaixo é possível verificar que os planos do governo brasileiro não ficaram apenas no papel. Jochem destaca as principais colônias, mas outras menores foram criadas e com denominações diferentes. Deixaram de ser Colônias para serem denominadas oficialmente de Núcleos Coloniais. Diferindo das primeiras apenas pela administração, uma vez que os Núcleos Coloniais prestavam contas diretamente ao Ministério da Agricultura para onde enviavam mensalmente relatórios de todas as ocorrências do Núcleo, enquanto as primeiras tinham uma certa autonomia e se reportavam ao governo das Províncias.
Quadro 1:.Principais Colônias Alemãs do Brasil:

Nº Nome Fundação Fundador Categoria Estado
01 Salvador 1808 ….. Urbana BA
02 Rio de Janeiro 1809 …….. Urbana RJ
03 Leopoldina 1818 Jorge G. Freyreiss Rural BA
04 São Jorge dos Ilhéus 1818 Pedro Weyll Rural BA
05 Nova Friburgo 1820 Sébastien N. Gachet Rural RJ
6 São Leopoldo 1824 Dom Pedro I Rural RS
7 São Jorge das Missões 1825 José Feliciano Pinheiro Rural RS
08 Três Forquilhas 1826 José Feliciano Pinheiro Rural RS
09 São Pedro de Alcântara 1826 José Feliciano Pinheiro Rural RS
10 Catucá 1826 ............. Rural PE
1 Santa Amélia 1828 .............. Rural PE
12 São Pedro de Alcântara 1829 ................... Rural SC
13 Rio Negro 1829 .................. Rural PR
4 Santo Amaro 1829 ............. Rural SP
15 Itapecerica 1829 ................ Rural SP
16 Vargem Grande 1837 ..................... Rural SC
17 Petrópolis 1845 Júlio Frederido Koler Rural RJ
18 Mundo Novo 1846 Tristão José Monteiro Rural RS
19 Santa Isabel 1847 ................... Rural SC
20 Piedade 1847 .................. Rural SC
21 Santa Isabel 1847 ................. Rural ES
22 Leopoldina 1848 ............. Rural SC
23 Caí 1848 Santos Guimarães Rural RS
24 Santa Cruz 1849 Soares D' Andrea Rural RS
25 -Blumenau 1850 Hermann Blumenau Rural SC
26 Joinville 1851 Christian Schrõder Rural SC
27 Estrela 1853 Vitorino José Ribeiro Rural RS
28 Militar Santa Teresa 1853 ..................... Rural SC
29 Teófilo Otoni 1856 Teófilo B. Otoni Rural MG
30 Santo Angelo 1857 Lei de 30/1 1/1855 Rural RS
31 Sta. Maria da Soledade 1857 Montravel Silveira &Cia Rural RS
32 São Feliciano 1857 ...................... Rural RS
33 Santa Leopoldina 1857 Rural ES
34 Juiz de Fora 1858 Henrique G. Halfel Rural MG
35 São Lourenço 1858 Jacob Rheingantz Rural RS
36 Nova Petrópolis 1858 Angelo Ferraz Rural RS
37 Brusque 1860 Maximiliano de Schneeburg Rural SC
38 Teresópolis 1860 ...................... Rural SC
39 Taquara 1860 ...................... Rural RS
40 Rolante 1860 ...................... Rural RS
41 Gramado 1860 ...................... Rural RS
42 Roca Sales 1860 ...................... Rural RS
43 Arroio do Meio 1860 ...................... Rural RS
44 Lajeado 1860 ...................... Rural RS
5 Venâncio Aires 1860 ...................... Rural RS
46 Candelária 1860 ...................... Rural RS
47 Barão do Triunfo 1860 ...................... Rural RS
48 São Bento do Sul 1873 ...................... Rural SC
49 Corupá 1873 ...................... Rural SC
50 Ibirama 1873 ...................... Rural SC
51 Muniz 1873 ...................... Rural BA
52 Jaraguá
1879 ...................... Rural SC
53 Ponta Grossa 1879 ...................... Rural PR
54 Neu-Wüttemberg I 1899 ...................... Rural RS
55 Irati 1899 ...................... Rural PR
56 Ivaí 1899 ...................... Rural PR
57 João Pinheiro 1907 ...................... Rural MG
58 Núcleo Colonial de Anitápolis 1907 Governo de Affonso Augusto Moreira Penna Rural SC
59 Inconfidência 1910 ...................... Rural MG
60 Álvaro da Silveira 1918 ...................... Rural MG
61 David Capista 1918 ...................... Rural MG
62 Francisco Sá 1923 ...................... Rural MG
63 Padre José Bento 1824 ...................... Rural MG
64 Uva 1824 ...................... Rural GO
65 Frankental 1824 George A. Schäffer Rural BA
66 Fazenda Almado 1824 Pedro Weyll Rural BA
67 Cruz Machado 1824 Rural PR
68 Cândido Abreu 1824 Rural BA
69 Itacará 1830 Otávio Mangabeira Rural PR
70 Rolândia 1932 Otávio Nixdort Rural PR
71 Entre Rios 1951 Rural PR
72 Witmarsum 1951 Rural SP
73 Campinas Rural SP
74 Friedburg Rural SP
75 Pires de Limeira Rural SP
76 Kirchdorf Rural SP
77 Monte Mor Rural SP
78 Rio Claro Rural SP
79 Ibicaba de Limeira Senador Vergueiro Rural SP
80 Santos - São Vicente Rural SP
81 São Paulo Urbana SP
82 Teodoro Egaz M.B.Aragão Rural BS
83 Santa Rosa Rural RJ
84 Santa Justa Rural RJ
85 Independência Rural RJ
Fonte: A Epopéia de Uma Imigração, de Toni Vidal Jochem, 1997, p.63, 64


Além do mais, agora parafraseando Perugine e Vallone, (1984) expandia-se no Brasil a cafeicultura. Os fazendeiros, mais precisamente ou cafeicultores enfrentavam grandes dificuldades para encontrar trabalhadores a contratar, e o tráfico de escravos começava a sofrer restrições. Em conseqüência o mercado de escravos vinha cada vez mais se inflacionando, consequentemente o fato originava aumento nas despesas, e ao mesmo tempo em que encarecia os custos da produção do café acabava diminuindo os lucros.

A solução encontrada por alguns cafeicultores de São Paulo foi à introdução de imigrantes europeus. Estes chegaram como simples colonos nas fazendas de café, mas com o tempo foram desenvolvendo outras atividades. Como muitos eram artesãos na terra natal, começaram a abrir pequenas oficinas. Destas, muitas se transformaram em pequenas indústrias que cresceram em tamanho e em importância produtiva, econômica e social, tanto para a região quanto para o país. Entre estes pequenos empreendedores, segundo o autor, estavam também os alemães, a quem os brasileiros devem, entre outras contribuições, o hábito de cultivar batatas, fabricar lingüiça e o cultivo da cevada, indispensável para a fabricação da cerveja.

Na zona rural trabalhavam em pequenas propriedades familiares. Desenvolveram a triticultura e também se dedicaram à suinocultura e seus derivados (toucinho e fabricação de banha para o consumo nacional).
Na zona urbana os imigrantes alemães desenvolveram as primeiras indústrias de curtume, ferraria, serralheria, marcenaria, sapataria, moinhos de trigo, fábricas de sabão, lapidação de pedras e pequenas oficinas de tecelagem. Marim, Quevedo e Ordoñez, (2001, p.82)

De acordo com os supra citados, vê-se que os alemães trouxeram para o Brasil todo um legado cultural que influenciou o povo brasileiro, mais precisamente o povo catarinense. Esta influência fica visível:

a- Na arquitetura de suas igrejas em estilo gótico com altas torres e nas casas em estilo exaimel com seus telhados muito altos, pois como na Europa estavam habituados a muita neve, preparavam suas casas para suportar o peso do gelo, cujas estruturas podem ser observadas ainda hoje com toda sua pompa por toda a região de influência alemã;

b- Na música através de orquestras, bandinhas e corais e nas danças com seus ritmos alegres capazes de contagiar aos espectadores;

c- Também na culinária típica com destaque para pratos como assado de porco, galinha recheada, chucrute, salsicha, cucas (uma variedade de bolo ou de pão doce com uma cobertura de açúcar conhecida como farofa), tortas e doces em geral;

d- Na maneira de falar com os erres carregados.

Dall’Alba (1973) relata que as festas eram animadas e, dançavam-se vários ritmos. As mesmas eram abrilhantadas por bandas musicais e por corais, nas quais os componentes eram todos imigrantes alemães ou filhos destes.

Perugine, Aroeira e Caldeira (1987) também comentam a influência alemã na vida social e cultural (chamada de folclore) dos catarinenses.

Os grupos formadores do povo catarinense contribuíram muito para a formação dos nossos costumes e tradições: a maneira de vestir, as festas, alimentos, as danças, as músicas, as crenças, as lendas, o artesanato as brincadeiras. Tudo aquilo que o povo inventa e vai transmitindo de pai para filho chama-se folclore.
(...) encontramos a influência dos imigrantes alemães. Eles introduziram a plantação da batata, do centeio e da cevada, esta última para fazer a cerveja. Eles também introduziram certos tipos de alimentos, como: chucrute, geléias e várias espécies de lingüiça.
Trouxeram para nossa terra os modelos de casas comuns no seu País. Elas são construídas com a chaminé do lado de fora da cozinha, o telhado em ângulo e um sótão. O jardim com flores enfeitando a entrada é comum nas casas de origem alemã.
As festas características dos imigrantes alemães são: a Festa dos Atiradores, a Festa da Cerveja e o seu baile chamado "kerb". Nesse baile, os grupos folclóricos alemães fazem apresentações usando seus trajes típicos. O "skat" também foi introduzido pêlos alemães. Trata-se de um jogo de cartas totalmente falado em alemão. Perugine, Aroeira e Caldeira (1987, P.51)


Neste contexto, Jochem (2009) destaca que os alemães eram considerados bons agricultores, logo, o povo certo para ocupar as grandes áreas desabitadas da região sul do Brasil, e principalmente para dar início ao sistema de colonização por famílias ocupando pequenas propriedades rurais que passariam a produzir no sistema de a agricultura familiar. Os estados alemães (melhor dizendo, toda a região germânica, pois eram considerados alemães não apenas os nascidos na Alemanha, mas todos os que falavam o idioma alemão), especialmente a região da Prússia passaram a ser considerados emigrantes em potencial. Ali as terras se tornavam escassas, ou os agricultores perdiam o direito de trabalhar as terras, uma vez que não eram seus verdadeiros donos, apenas “colonos”.

Já Dall’Alba (1973) relata que entre os imigrantes enviados ao Núcleo Colonial de Anitápolis, os agricultores eram uma pequena minoria. Logo, estes enfrentaram grandes dificuldades para se adaptarem ao trabalho rural. Mesmo porque os poucos que tinham intimidade dom o manejo da terra eram habituados ao sistema europeu de cultivo e de cuidados com a preservação do solo. Estes foram desaconselhados, das práticas européias de manejo do solo, pelos dirigentes do Núcleo Colonial e orientados a derrubarem a mata e atearem fogo , fato que causou estranheza aos recém chegados.

A situação, de acordo com Marim, Quevedo e Ordoñez (2001), nesta região da Europa era complicada. Castigados por freqüentes guerras, e em conseqüência delas, pelo desemprego e pela fome, milhares de pessoas foram tentar a sorte em outros países. Embora a fome tenha sido um importante fator na tomada de decisão para muitos dos que imigraram, não se constituiu em fator isolado ou decisivo.

Isso também aconteceu, mas jamais foi regra geral, nem mesmo quando dos transtornos napoleônicos ou após as duas guerras mundiais. Fator decisivo foi simplesmente à realidade de que a grande massa de emigrantes não encontrava em sua pátria meios para o pleno aproveitamento de suas capacidades e iniciativas, acreditando ser isso possível no exterior. Fouquet (apud JOCHEM 1997, p.54)


Além disto, parafraseando Jochem (1997), três fatores importantes motivaram a imigração alemã, não só para Brasil:
a) as terras escasseavam na região devido a partilhas hereditárias;
b) a curiosidade européia por conhecer terras estranhas;
c) a grande habilidade dos agentes imigratórios representantes de companhias colonizadoras ou de companhias de navegação em convencer grandes levas de descontentes das vantagens de buscarem novas vidas em novas terras, pois representava um alto negócio para ambos.

Isto favorecia diretamente os interesses do governo brasileiro que fez uso desta situação para por em prática seus planos, conforme segue,
A imigração alemã que queremos nos referir ocorre dentro do ciclo de grandes imigrações européias no século XIX, após as guerras napoleônicas e o início da 1ª guerra mundial notadamente no período compreendido de 1815 a 1914. (...)Além disso, o governo imperial acreditava que parte do fluxo imigratório poderia, se tivesse uma política atraente, ser canalizado para o Brasil, em detrimento de outros paises. Era o que o governo pretendia e, para isso, precisava por em prática uma efetiva política de “atração”.
Implantando um processo de colonização, em 1812, o governo ensaiava seus primeiros passos neste sentido com a fundação da Colônia de Santo Agostinho, no Espírito Santo, com açorianos; em 1818, a Colônia Leopoldina, com alemães, na Bahia; em 1820, a de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, com colonos suíços e, posteriormente, alemães; em 1822, a Colônia de São Jorge dos Ilhéus, no sul da Bahia. Todos os imigrantes instalados nas citadas colônias foram introduzidos à custa do governo brasileiro e contemplados com a doação de terras. Jochem (2009- 22/04)



Embora Quevedo, Odoñez e Sales (1997, p.42) afirmem que 1822 foi o ano em que o Imperador D. Pedro I elaborou o projeto para colonização com imigrantes alemães, de terras desabitadas pelo interior do país, Jochem afirma que já em 1818 o governo imperial brasileiro iniciava o incentivo a este tipo de colonização, não no Sul do Brasil, mas na Bahia e no Rio de Janeiro, conforme pode-se verificar no quadro 1, página 30 desta pesquisa.

Em contrapartida, Marim, Quevedo e Ordoñez (2001), afirmam que os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Brasil em 1819 e fundaram a Colônia de Nova Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro, enquanto Jochem aponta a fundação desta mesma Colônia como sendo 1820.

Segundo relatos de Jochem, no recorte cronológico acima citado, dos cerca de sessenta milhões de pessoas que emigraram da Europa, cerca de cinco milhões eram alemães e que a grande maioria destes dirigiram-se para os Estados Unidos da América, entretanto uma boa parcela dirigiu-se para o Brasil e outros tantos se espalharam por diversos países, inclusive do continente americano. O fluxo para o Brasil só não foi maior devido ao valor da travessia do Atlântico e da ausência, no início do século XIX, de uma clara política de incentivo a imigração. Mesmo assim ultrapassou em muito os 200 mil imigrantes.

Embora o projeto de D. Pedro I, de colonização alemã datasse de 1822, Jochem já destacou que o processo teve início em Nova Friburgo, alguns anos antes. Embora ressalte que o início propriamente dito aconteceu após a Independência do Brasil, quando Dom Pedro I resolveu enviar o Major Jorge Antônio Schaeffer às cortes alemãs com a função de angariar colonos e soldados para compor a guarda imperial uma vez que não podia mais contar com as tropoas de Portugal. Mas para Santa Catarina, segundo Quevedo, Ordoñes e Sales (2001), a primeira tentativa foi em 1829.

Nesta data (1829), segundo os supra citados, 166 famílias, todas vindas de Bremen, na Alemanha, foram instaladas na Colônia de São Pedro de Alcântara, com o objetivo claro de desenvolver a agricultura em pequenas propriedades rurais e em regime familiar. Afirmam ainda que a colônia, mais tarde, seria abandonada.

Muller (2008) também ressalta que os equívocos cometidos em relação a escolha do local, a assistência dispensada aos colonos, bem como a falta de ligações para escoar excedente da produção, levaram ao insucesso algumas colônias, inclusive a Colônia mãe “São Pedro de Alcântara”, mas esta resistiu às adversidades e Jochem (2009) mostra que a colônia primeira de Santa Catarina, a que originou as demais pelo estado, a que marcou o início do processo imigratório para a região, permaneceu dependente, primeiro como Colônia de São José e por último como Distrito deste, conseguindo a emancipação politico administrativa apenas em16 de abril 1994, quando passou a categoria de Município.

Para manter o domínio geo-político no sul do Brasil, o Governo Imperial determinou a colonização das Províncias de Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Para tanto, acionou as embaixadas e consulados brasileiros na Europa, principalmente na Alemanha para, mediante propaganda da "nova" política brasileira, recrutar imigrantes.
Assim, as embaixadas e os consulados brasileiros tornaram-se, não de direito, mas de fato, verdadeiras agências de imigração. Tão frenético tornou-se o recrutamento de imigrantes, mediante agentes inescrupulosos, que a Prússia teve que tomar drásticas medidas políticas na intenção de inibir a ação desses "vendedores de almas". Houve agitação em muitas regiões, entre elas Luxemburgo e Hunsrück.
Para imigrar, os habitantes dessas regiões deveriam navegar pelo Rio Reno até Colónia. Desta cidade dirigir-se-iam, de trem, para Ostende, na Bélgica. E deste país, por terra, atravessariam a fronteira com a França, para, no Porto de Dunquerque, embarcarem para o Brasil. Jochem (1997, P.69)


Perugine, Aroeira e Caldeira (1987) confirmam que em 1829, os membros do primeiro grupo de imigrantes alemães em Santa Catarina, foram instalados na Colônia do governo, de São Pedro de Alcântara. Afirmam também que estes novos habitantes se espalharam pelos vales do Rio Maruim, Itajaí e Cachoeiras. Outras Colônias surgiram e algumas se transformaram em importantes cidades de Santa Catarina. Conforme os supra citados (1987, p.64), “A Colônia mais importante foi fundada pelo Doutor Hermann Blumenau, em 1850. Ela ficava às margens do Rio Itajaí-Açu. Recebeu o nome de seu fundador. Blumenau tornou-se a mais próspera das colônias alemãs em Santa Catarina”. Ainda hoje (grifos meus) é uma cidade de grande importância para a economia do Estado, é nela e nas vizinhanças que encontramos um grande número de importantes indústrias têxteis. Também é em Blumenau que acontece a maior e mais tradicional festa germânica de Santa Catarina, a “Oktoberfest”, conhecida internacionalmente e freqüentada anualmente por milhares de turistas.

Mas como o objetivo era povoar uma região em especial, a figura acima mostra a “Planta hidro-topográfica de autoria de Paulo José Miguel de Brito. No mapa, Brito demarcou Colônias que o Governo deveria conceder a agricultores ao longo do caminho, como forma de garantir a proteção do território. Ao mesmo tempo representa um mapa do que deveria ser a estrada de ligação Nossa Senhora do Desterro (Florianópolis) a Nossa Senhora das Lages (cidade de Lages), no planalto Catarinense e um dos principais alvos dos governantes no que se refere a colonização.
Mas os planos de colonização de Santa Catarina eram mais antigos. Inicialmente, segundo Jochem (1997), programado com açorianos ao longo da projetada estrada de ligação Desterro/Lages , mais conhecida como Caminho das Tropas por ser o itinerário dos tropeiros ao longo de vários anos. Até que na década de 1880 teve início à implantação de uma estrada de rodagem seguindo este caminho, e finalmente, após 200 anos de discursos, planos e projetos, na década de 1980, a BR 282 passa a fazer a tão sonhada ligação Planalto/Litoral.

O Governador da Capitania de Santa Catarina , Coronel Manoel Soares Coimbra, movido pela sensatez, elaborou, estrategicamente, um plano defensivo à Ilha de Santa Catarina, planejando a instalação de dois núcleos coloniais no caminho para Lages. Os planejados núcleos coloniais seriam constituídos por soldados casados e por lavradores tendo, em vista, fins militares. Concebia-se que os militares, além de afugentar os gentios, dedicar-se-iam às tarefas agrícolas e bélicas constituindo-se em potenciais mecanismos de defesa para a Capitania, em caso de emergência ante a fúria dos inimigos espanhóis. (...).
O Tenente-Coronel João Alberto Miranda Ribeiro, sucessor de Coimbra no executivo provincial, revigorou o plano e reivindicou, veementemente, junto ao Vice-Rei, a sua exeqüibilidade, solicitando, inclusive, a alocação de recursos financeiros no orçamento da Província para viabilizá-lo. O Governador insistiu junto ao Governo constituído no Rio de Janeiro sobre a importância estratégica das fundações dos núcleos coloniais, mas o Conde de Rezende, Dom José Luiz de Castro, não deu maior importância e frustrou o projeto. Com a morte prematura do Tenente-Coronel Ribeiro, os planos da instalação dos núcleos coloniais e da implantação da ligação rodoviária litoral-planalto, em 19 de janeiro de 1800 no Desterro, entraram em prolongada hibernação durante 28 anos. Jochem (1997, p.43).


Após o início da colonização de Santa Catarina, com a fundação da Colônia se São Pedro de Alcântara, em homenagem ao Imperador, Dom Pedro I, outras foram fundadas pelo Estado, mas isto após cerca de 20 anos da fundação da primeira. Dando seqüência ao projeto do pai, por ordem de Dom Pedro II fundou-se, em homenagem a Princesa Isabel , a Colônia de Santa Isabel, em 1846. Ainda segundo Jochem (1997), desta vez os contratos diferiam dos destinados aos colonizadores de São Pedro de Alcântara apenas na liberação da confissão religiosa. Esta agora era livre desde que exercida em casas sem qualquer semelhança com igreja ou templo, salvo para os de confissão católica. A partir do Ato Constitucional de 1834, as Províncias passaram a ter pode para fundar novas colônias e tomar providências para mantê-las e colonizá-las.

Santa Catarina, em março de 1936, publica lei que regulamenta o direito outorgado pelo Ato Constitucional de 1834. O fato deu um grande impulso ao crescimento social e econômico da Província.

A colonização com imigrantes europeus teve início na região entre o planalto e o litoral, nos pequenos vales da zona fronteira à Ilha de Santa Catarina. Assim, em março de 1829, surgia São Pedro de Alcântara, tornando-se mãe de todas as Colônias alemãs do estado de Santa Catarina. Inclusive, da hoje sesquicentenária Santa Isabel.
O recém-chegado imigrante conservou intacta a lembrança da pátria distante com tudo aquilo que simbolizava sua natureza familiar, amigos e parentes, veneráveis templos religiosos de sua aldeia de origem, usos e hábitos típicos, além de costumes consolidados. Aqui no Brasil precisavam recomeçar a vida concretizando essa lembrança. Tudo estava por ser feito ... Jochem (1997, p.62)


O governo da Província de Santa Catarina, de acordo com Fiori e Lunardon (2004, p.167) esperava que estes imigrantes, uma vez que chegavam acompanhados por esposas e filhos, realizassem o povoamento das regiões a eles destinadas pelos poderes públicos. Para isto teriam que desbravar a mata virgem, abrir picadas, construir caminhos, iniciar as atividades agrícolas e comerciais, iniciar a criação de animais domésticos, bem como tornar habitável o lugar que lhes cabia na nova terra, e tudo isto antes que terminasse o auxílio financeiro do governo. Realmente, Jochem estava correto, tudo estava por ser feito.

Para ocupar as datas (os lotes) a eles destinadas, em plena floresta atlântica, os imigrantes enfrentavam inúmeras adversidades e perigos. Butzke (apud FIORI E LUNARDON 2004, p.168) transcreve o descrito por um imigrante:

Este começo em plena mata virgem trouxe-me e a muitos colonos, trabalhos ainda mais pesados. Os gêneros de primeira necessidade eram escassos. O estômago teve que jejuar muitas vezes. E, além disso, nós tínhamos que estar sempre visitantes. (...) tivemos a visita de tigres. Estes causaram grandes prejuízos em toda a colônia. A mim um tigre matou, numa noite de chuva muito forte, um novilho de três anos, estraçalhando-lhe a garganta. Também carregou-me com dois bons cachorros.

Mas estes perigos a serem enfrentados já eram esperados pelos recém chegados. O imigrante Mathias Schmitz (apud JOCHEM www.jochem.com.br, 28-05-09) já relatava em seu diário (mais tarde transformado em crônica) que o Brasil era visto como um paraíso, embora também como uma terra de muitos perigos. Mas estes eram problemas que pouco a pouco foram vencidos com dedicação, obstinação e solidariedade. Uma vez instalados, se tornava imprescindível assegurar o sustento para a família. Nesta hora a solidariedade foi uma excelente companheira. Grupos de homens reuniam-se em mutirão e num esforço conjunto derrubavam árvores, aguardavam por um determinado tempo até que a roçada estivesse em ponto de queima então ateavam fogo no roçado , plantavam, limpavam a plantação e colhiam. Assim, com a dedicação e o esforço compartilhado todos finalmente viam suas culturas darem seus primeiros frutos garantindo o alimento para todos.

Esta solidariedade entre os recém chegados só se tornou possível, pois, de acordo com Fiori e Lunardon (2004), na maioria das vezes os imigrantes vinham em grandes grupos e provinham de uma mesma região ou comunidade. Logo, eram amigos ou parentes e todos com famílias numerosas que após venderem o pouco que possuíam na Alemanha, pagaram a travessia do Atlântico e com suas roupas de camponeses aventuraram-se para o Brasil.

Os citados no parágrafo anterior afirmam que nem todos eram pobres ou agricultores. Entre eles haviam médicos, farmacêuticos, engenheiros e artesãos de diversas especialidades. Esta nova classe começou a imigrar a partir do desenvolvimento de novas técnicas de navegação e com o surgimento dos barcos a vapor. Formou-se então uma nova categoria de colonizadores que dispunha de recursos para pagar suas passagens e principalmente para viajar confortavelmente, até mesmo de primeira classe. Vinham dotados de recursos que os permitiu darem início as atividades comerciais e industriais nos povoados onde se fixaram. Embora as viagens continuassem sendo difíceis, tanto com veleiros, quanto com barcos a vapor, não havia outras forma de chegar Santa Catarina senão por mar.

Os imigrantes chegavam a Santa Catarina viajando por mar. Os portos onde desembarcavam, a forma de organizar as colônias, a maneira como se adaptavam ao Brasil, etc. variavam conforme a situação – “cada história era uma história”. (...)
Os imigrantes desciam dos navios com todas as coisas que haviam trazido para o Brasil – baús, pacotes, malas. Depois até serem encaminhados para as regiões do interior onde iriam morar, ficavam alojados nos mais diversos lugares – construções do governo, por vezes em pequenas pensões, mas principalmente em barracões de alojamentos. Fiori e Lunardon (2004, p.172 e 173)



Não havia em Desterro (Florianópolis) uma hospedaria para acolher tantos imigrantes, e muitas vezes estes permaneciam por um longo tempo esperando serem deslocados para suas novas moradas. As famílias eram normalmente grandes e se faziam acompanhar, além dos filhos, por tios e avós. Estes (os avós) eram chamados pelos alemães de “Opa e Omã”, já pelos italianos “Nono e Nona”, afirma Fiori e Lunardon. Só em 1890 foi construída em Florianópolis a “Hospedaria dos Imigrantes” com capacidade para alojar cerca de 240 pessoas. A partir de então era nesta hospedaria que os imigrantes eram alojados com todos os seus pertences até serem encaminhados as suas terras. Isto podia levar semanas ou meses. A Hospedaria foi construída no continente. É ali que hoje funciona o Portal Turístico de Florianópolis.

O primeiro desembarque de imigrantes, em Santa Catarina, ocorreu no ano de 1828 no porto de Desterro. O grupo era formado por mais de 600 pessoas de nacionalidade alemã.
Atendidos por funcionários do governo, a maioria dos recém-chegados foram alojados em instalações militares da ilha. Mas tiveram que aguardar a autorização do governo provincial para viajar para o interior e tomar posse de suas terras. Essa espera foi de três meses, criando dificuldades de sobrevivência para os imigrantes, pois seus poucos recursos estavam sendo gastos antes mesmo de se deslocarem para o interior e chegarem à área da colonização.Para conseguir que os imigrantes viessem para Santa Catarina, o governo brasileiro se comprometera a ajudá-los, de diversas formas, na fase de instalação da colônia: com ferramentas e sementes, com prazos grandes para o pagamento das dívidas que fossem contraídas, com o pagamento de uma ajuda diária de 160 réis. Essa última e outras promessas nunca foram cumpridas.
Depois da longa espera, finalmente chegou o dia de partir. Os imigrantes seguiram para o interior acompanhados de um funcionário do governo que tinha o cargo de Imperial Medidor de Terras. Viajavam em busca dos lotes de terra que lhes estavam destinados, distantes uns 35 quilômetros de Nossa Senhora do Desterro, numa região situada em plena mata virgem. Fiori e Lunardon (2004, p. 174)


Jochem (2009) relata que com o objetivo de reforçar a colonização e viabilizar a ocupação de vazios demográficos, em setembro de 1828, o Monsenhor Pedro Machado de Miranda Malheiros, que ocupava o cargo de Imperial Inspetor da Colonização Estrangeira, foi autorizado a receber no porto do Rio de Janeiro o navio alemão "Johanna Jakobs". A bordo deste viajaram centenas de pessoas oriundas do sudoeste da Alemanha para o Brasil. Totalizavam 523 pessoas entre crianças, jovens e adultas. Ao chegarem ao Rio de Janeiro aguardaram por alguns dias, até que outros imigrantes,também alemães, totalizando 635 pessoas, se reuniram ao grupo que ficou composto por 146 famílias.

Logo, estava em pleno funcionamento os planos brasileiros de introduzir famílias nas áreas desocupadas e além do mais, estrategicamente alguns militares faziam parte do grupo. Providências foram tomadas e o grupo foi despachado do Rio de Janeiro para Desterro em 28 de outubro de 1828, á bordo de dois veleiros – Brigue Luiza e Bergantin Marques de Viana. Ancoraram respectivamente em 07 e 12 de novembro de 1828 no porto de Desterro.

Após a chegada, todos os que foram transportados pelo Bergantim "Marquês de Viana" ficaram alojados nos quartéis da capital da Província de Santa Catarina (campo de manejo), juntos aos Batalhões 8º, 18º, 27º e 4º de artilharia, enquanto os que vieram no brigue "Luiza", por haverem adoecido durante a viagem, foram "hospedados", involuntariamente, "livre de comunicação", e completamente isolados na Armação da Lagoinha – um antigo estabelecimento de pesca de baleias fundado na costa oriental da Ilha de Santa Catarina. Jochem continua relatando que:

Lá, também, estava aquartelado o 14º Batalhão do Exército. Neste estabelecimento os imigrantes foram amparados, no que tange à assistência médica, por conta do governo provincial. Completamente isolados e em plena ociosidade, requereram, naquela localidade, terras para cultivar e de cuja solicitação não obtiveram resposta.
Assim ficaram (...), à espera, impacientes e em parte desanimados diante da morosidade dos poderes constituídos referente aos encaminhamentos elementares visando a sua transferência para a mata virgem. Jochem (05.05.2009)


Ali permaneceram por algum tempo, pois de acordo com trabalhos de Jochem, os terrenos a eles destinados ainda não haviam sido demarcados. Como tudo se arrastava com morosidade, os imigrantes começaram a procurar trabalho pelos arredores. Pretendiam conseguir algum dinheiro para a subsistência na colônia. Isto lhes rendeu o título de bons trabalhadores e aumentando o desejo das autoridades em atraírem mais e mais novos interessados para as colônias catarinenses.

Mas os recém chegados, a cada dia se tornavam mais apreensivos e desgostosos com as autoridades, pois viam as sementes trazidas da Europa se perderem e os recursos financeiros se esgotarem sem que uma solução se apresentasse. O fato gerou várias denúncias por parte dos imigrantes, que só então perceberam o engano que cometeram ao aceitarem as ofertas dos agenciadores. Jochem (1997), bem como o imigrante Mathias Schmitz em sua crônica (apud JOCHEM, 2009) relatam que os alemães foram ludibriados pelos agenciadores que prometeram aos desavisados aquilo que o governo brasileiro jamais cumprira. Até mesmo as terras que supostamente eram gratuitas, mais tarde acabaram sendo cobradas e a ajuda que recebiam era anotada na conta de cada colono, pelos diretores das colônias.

Após serem deslocados para a Colônia de São Pedro de Alcântara, os imigrantes começaram a lutar pelo sustento de suas famílias. Só em 1847 o governo imperial resolveu criar uma segunda colônia em Santa Catarina.

Foi a vez da Colônia de Santa Isabel. Esta passou a receber imigrantes alemães embarcados em Dunquerque, na França, em 19 de outubro de 1846 a bordo do Brig Erídano, com o qual aportaram no Rio de Janeiro em novembro deste mesmo ano, de onde, após alguns contra tempos, partiram a bordo do Vapor Bergantim Vênus que aportou em Desterro em 28 de dezembro de 1846. Permaneceram por alguns dias em abrigos oferecidos pelo governo e em início de 1847 seguiram em pequenos barcos com os quais adentraram no Rio Cubatão. Quando a navegação já não era mais possível, foram deslocados a pé ou com carros de bois até um alojamento provisório, onde permaneceram enquanto os trabalhos de demarcação de terrenos eram concluídos. O imigrante Mathias Schmitz, que tem as peripécias e desventuras deste grupo de cerca de 200 pessoas contadas com riquezas de detalhes na Crônica do Imigrante Mathias Schmitz (apud JOCHEM2009), disponível em (www.tonijochem.com.br), relata com espanto “Eu me recordo da minha surpresa quando vi a estrada imperial. Na Europa eu nunca vira uma estrada tão ruim. Coberta por mato onde rasgava-se a roupa, com cada passo atolado na lama até os joelhos”.

Uma das grandes preocupações dos imigrantes sempre foi com a educação de seus descendentes. O grupo de Santa Isabel, por ter como um de seus líderes o Professor Mathias Schmitz, embora preocupado, via o tempo passar sem que o governo se preocupasse em dar-lhes uma escola para poderem ensinar as primeiras letras aos filhos. Por conta disto, em 1861, segundo Jochem (1997), o Pastor Luterano Wagner, mobilizou a população local para reivindicar junto ao governo da província uma instituição educacional.

Surgiu então a “Erziehungsanstalt - Instituto de Educação”. Uma escola com internato que englobava alfabetização, evangelização e práticas agrícolas para manter os internos. Seu funcionamento efetivo deu-se após o término da construção do prédio, em 1864. Ali na Erziehungsanstalt, já se trabalhava a interdisciplinaridade, pois Jochem (1997) relata que os alunos “internos” alternavam estudos e catequese com trabalhos na agricultura de subsistência da entidade.

A partir da implantação da pioneira, outras colônias foram fundadas pelo estado, ficando São Pedro de Alcântara como a mãe de todas e Santa Isabel como seu primeiro prolongamento. O mapa(figura 2) mostra onde foram fundadas as primeiras, bem como suas “filiais”, ou seja, as colônias que surgiram a partir das primeiras. A maioria da população das novas colônias era trazida diretamente da região germânica, mas os que já se encontravam no Brasil acabavam dando início a formação de um novo entro colonizador que mais tarde era motivo de criação de nova colônia pelos poderes constituídos.

Durante todo o século XIX, as colônias se expandiram pelo estado afora conforme observado nos mapas supra impressos, figuras (2 e 3) e conforme pode-se observar, não só as colônias alemãs mas também as colônias italianas ganharam algum espaço no Estado de Santa Catarina, pois logo na primeira década do século XX, o governo. Republicano resolveu criar novas áreas igualmente colonizadas por alemães. No início do século XX, a região litorânea do estado com o caminho das tropas já estava povoado, restava ainda uma área remanescente, localizada entre a Serra Geral, Serra da Boa Vista e a Serra do Rio Novo (Região do Cambirela), nas nascentes do Rio Tubarão, segundo Carvalho (20-04-2009), conhecida com Rio da Prata . Foi ali que o Presidente Affonso Augusto Penna, através da Lei Nº. 722, de 17 de agosto de 1907, decidiu criar o Núcleo Colonial Federal de Anitápolis. O nome é uma homenagem à heroína Anita Garibaldi, figura histórica da Revolução Farroupilha, cabendo ao governo do Estado de Santa Catarina a incumbência da implantação oficial do referido Núcleo Colonial.

A decisão da criação do Núcleo Colonial Federal de Anitápolis, conforme relata Dall’Alba (1973), objetivava exclusivamente “abrigar imigrantes europeus que demandavam estas terras”, pois no Vale do Braço do Norte, constava como a última região a ser povoada e a única que teve a direção completa dos poderes constituídos. O território das cabeceiras do Rio Braço do Norte (Rio Tubarão) era composto por uma região altamente montanhosa, incrustada entre a Serra Geral, Serra da Boa Vista, Serra do Rio Novo (Região do Cambirela) habitada por índios da nação dos Tupis Guaranis (Jês ou Caigangs). Compunha a região uma densa floresta de Mata Atlântica, quase impenetrável, que impedia a colonização espontânea.

Depois de criado o Núcleo Colonial, os agentes do governo contrataram uma equipe de desbravadores para abrir uma picada e permitir que os funcionários do Núcleo chegassem para iniciar os trabalhos.

Dall’Alba comenta que foi contratado também Cícero Rodrigues Brasil, um cearense descendente de indígenas que habitava em Florianópolis desde criança, conhecido como bom mateiro, que com sua família fixou residência onde deveria ser a sede do Núcleo Colonial de Anitápolis e deu início a plantação de feijão, milho e abóbora, além de uma criação de porcos, com o objetivo de alimentar os trabalhadores e a equipe administrativa. Sua principal função era exatamente garantir a subsistência dos trabalhadores do Núcleo Colonial.

O primeiro Diretor do Núcleo Colônias de Anitápolis foi o engenheiro agrimensor Cisenando Mattos, este ocupava o cargo que nas colônias era ocupado pelo Imperial Medidor de Terras. O Diretor era também autoridade única do lugar e prestava contas de seus atos diretamente ao Ministério da Agricultura, para onde enviava relatórios mensais de tudo que acontecia na Colônia. Tinha sob seu comando uma equipe de auxiliares que por sua vez comandavam os trabalhos de demarcação das terras a serem distribuídas aos imigrantes. O grupo era conhecido no lugar como a Comissão. A eles cabia a orientação de todos os trabalhos da nova colônia, além da incumbência de comunicar ao Diretor todo e qualquer ato referente aos imigrantes. A equipe funcionava como se fossem os olhos e os ouvidos do dirigente.

Cícero Rodrigues Brasil, segundo Dall’Alba (1973), ainda na segunda metade de 1907, mudou-se com toda família para Anitápolis. Ali à margem direita do Rio da Prata, construiu uma pequena casa de madeira que serviu de residência para toda a família. Um pouco mais adiante, na margem esquerda do mesmo rio, segundo o próprio Dall’Alba, antecipando-se ao Decreto de criação, já morava José Russo e sua família.

Segundo Dall’Alba, 1973, a Comissão tinha a função, além da demarcação dos terrenos, de construir casas para receber os imigrantes. Foram quatro anos de preparação e de trabalho intenso. Durante este tempo tratou-se de construir um galpão coberto com zinco com cerca de cem metros de comprimento para servir de abrigo provisório aos trabalhadores, traçar as ruas do que viria a ser o centro de futuro município de Anitápolis, prédio para abrigar a equipe administrativa ; foi também construída uma ponte de madeira , concluída em 1910, que cruzava o Rio da Prata e permitia a entrada no que viria a ser o povoado. E o principal, um grupo de trabalhadores, homens fortes e destemidos, iniciou e terminou a abertura de uma estrada de rodagem que ligava Rio Novo a Anitápolis. Esta cruzava a Serra da Garganta formando uma verdadeira obra prima do homem incrustada em outra da natureza. Cruzar por ela, era para os imigrantes viajar pelo paraíso.

Quando finalmente a colônia estava previamente preparada para receber seus colonizadores, estes, em 1911 começaram a chegar, segundo Dall’Alba, vindos de diversos países da Europa, mas todos utilizavam o idioma alemão. Foram alguns anos de intenso movimento de entrada de imigrantes que chegavam quase diariamente. Durante este período, um dia em especial mereceu a atenção dos dirigentes, foi quando de uma única vez chegaram a Anitápolis cem famílias de imigrantes, com isto a Comissão não teve onde abrigar todos os novos colonos obrigando-se a pedir ajuda a população local. Esta, para não deixá-los ao relento, acabou acolhendo em suas casas os estrangeiros. Os imigrantes vinham em carretas puxadas por cavalos ou burros e traziam consigo utensílios que demonstrava serem de alguma posse. A maioria já não fazia parte do batalhão de desafortunados que iniciou a colonização em São Pedro de Alcântara e Santa Isabel. Eram, conforme relata Dall’alba, gente bem de vida, pois traziam louças finas, instrumentos musicais, objetos de valor, armas, livros e roupas finas. Muitos eram estudados e quase todos exerciam outras profissões que não a de agricultor, entre eles havia músicos, ex militares, artesãos e mineiros. Eram alegres, e segundo depoimentos de ex funcionários do Núcleo Colonial de Anitápolis impressos em Dall’Alba (1973, p. 324)

Dava cada baile de se dançar a noite inteira.
Em geral o povo estava contente. Agora, uma vez se revoltaram. Foi qualquer coisa com o chefe.
A pé, armados, se reuniram uns 50 homens e vinham para o escritório. Mas o chefe previa o levante e já tinha conseguido a vinda de um reforço da polícia. Aí conseguiram acalmar os imigrantes.


Em Anitápolis, diferente das primeiras colônias, as terras já estavam demarcadas e algumas casas de madeira, bastante precária, já estavam construídas, o que facilitou a acomodação dos imigrantes. Mesmo assim, as famílias ficavam hospedadas por alguns dias no galpão da Comissão (Núcleo Colonial de Anitápolis) enquanto os homens percorriam as várias Secções para a escolha do terreno adequado; eram 32 secções, quase todas com nomes de Rios.

As casas, edificações de madeira cobertas com tabuinhas ou palhas (folhas de uma espécie de palmeira nativa) não eram grandes, conforme mostra a foto (figura 5), mas atendiam necessidades imediatas dos recém chegados. Também não eram muito confortáveis, pois muitas não possuíam assoalho e nem a devida vedação entre uma tábua e outra.
Mas também em Anitápolis, devido às dificuldades oferecidas pelas terras e pela falta de familiaridade com a agricultura, de acordo com Dall’Alba (1973), a colonização por imigração não apresentou os resultados esperados. Tanto que alguns anos depois, a grande maioria havia se mudado para a região de Ituporanga, no Vale do Itajaí, onde encontraram melhores terras e mais apoio dos administradores; ou para a região de Criciúma onde passaram a exercer a já conhecida profissão de minerador das minas de carvão. Em Anitápolis, ficavam geralmente as mulheres e filhos enquanto o chefe da família buscava o sustento em outras regiões. Mesmo assim, a população local manteve-se alemã em detrimento das demais etnias.

Outra diferença na forma de colonizar Anitápolis e as colônias anteriores é mostrada por Dall’Alba (1973). Nesta os imigrantes chegavam conscientes de que teriam que pagar pelas terras que recebessem, em prestações distribuídas ao longo de oito anos, a quantia de 265 mil réis por cada lote de 25 hectares. Tinham também a certeza de que receberiam algum auxílio na forma de adiantamento, ou seja, tudo que a Comissão entregasse a eles era imediatamente lançado na conta do colono, e este, dentro dos prazos estabelecidos, pagaria suas dívidas com a Comissão.

Assim como nas demais colônias de imigração alemã, o governo descuidou-se de instruí-los. Isto os levou a criar sua própria escola. Ernesto Koenisch, um apicultor com alguma instrução, foi quem assumiu a função, paralela a sua profissão, de ensinar, na língua alemã, os filhos dos imigrantes. Por não ter cidadania brasileira, em 1914, tendo sido convocado pelo exército alemão, retornou a pátria e morreu em combate. Outros o sucederam na função de escolarizar os filhos dos imigrantes , até que 1918, vendo o fracasso da colonização, o governo federal criou em Anitápolis o Patronato Agrícola, e com ele a primeira Escola Oficial, uma espécie de Colônia Correcional para abrigar jovens delinqüentes dos grandes centros, principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas isto já é tema para outra pesquisa e que não é o interesse deste trabalho.

2.3 Utilização interdisciplinar do tema, imigração alemã.
Santomé (2009) diz que os conteúdos culturais formadores do currículo escolar freqüentemente são descontextualizados, logo, distantes da realidade dos alunos. Isto acontece porque a escola está inserida num sistema capitalista de produção em série e educa suas gerações para atender as exigências do capital. A escola apresenta-se semelhante ao sistema produtivo. Neste os trabalhadores são excluídos do conhecimento ou do entendimento de toda a produção. Cada trabalhador conhece apenas uma pequena parte do todo e nela se torna especialista, mas não conhece nem compreende o processo como um todo. Só a uns poucos é permitido pensar, conhecer e programar todo o processo.

Na educação isto também é regra dominante. Ensina-se e aprende-se por fragmentos desconexos da realidade utilizando-se como ferramenta principal a memorização e a repetição isolada de pontos específicos. Enquanto a apenas alguns, e estes não são os professores, é dado o direito de elaboração de currículos escolares e livros-texto, ou seja, apenas alguns privilegiados tem idéia do que realmente se quer que os alunos aprendam até o final de cada ciclo, enquanto os demais são meros executores.

Desde o início deste século, John Dewy, um dos fundadores da Escola Ativa, critica as instituições de ensino que obrigam os alunos a trabalharem com uma excessiva compartimentação da cultura de matérias, temas e lições com grande abundância de detalhes simples e pontuais. O resultado é que, como a estratégia para sobreviver nas salas de aula, meninos e meninas passam a acumular em suas mentes uma sobrecarga de fragmentos sem conexão uns com os outros, que só são aceitos baseados na repetição e na autoridade. Santomé (05-05-2009)

Conseqüentemente há uma preocupação excessiva do corpo docente em levar os aprendentes a uma obediência cega, a memorização mesmo que sem a compreensão, dentro do ritmo exigido. Em contrapartida os alunos que precisam e querem aprender acabam desenvolvendo técnicas de memorização de conceitos, conteúdos, fórmulas e datas, atendendo assim as exigências de professores e do sistema educacional, mas que de fato não levam a um processo de construção e reconstrução do saber crítico e reflexivo. A educação escolar tem se pautado quase que exclusivamente em boa memorização que leva a atribuição de uma nota como prêmio para o bom reprodutor daquilo que os professores transmitiram. O que de fato importa nestes casos são os resultados numéricos e não o foi ou não apreendido.

Dessa forma os conteúdos trabalhados em cada uma das séries não são interligados. A cada ano inicia-se do ponto zero. Assim como no processo produtivo, onde cada operário, ao longo dos anos, foi bitolado para exercer uma única função, sem o conhecimento do resto do processo, com o único objetivo de produzir mais e assim aumentar os lucros da empresa, também os educadores têm sidos levados a agirem na tentativa de ensinar.

Num sistema educacional fragmentado os aprendentes são levados a reproduzir fielmente (e quanto mais fielmente melhor) as idéias que lhes são repassadas. Neste tipo de sistema, ou seja, tradicional e positivista, não havia e nem há lugar para a criatividade e a criticidade, muito menos para a reflexão da prática educacional. Os conteúdos são pensados em gabinetes, e o pior, por pessoas que na maioria das vezes não tem idéia do que é e nem de como ensinar.

Assim nas instituições de ensino produzia-se uma distorção semelhante a do meio produtivo. Só poucas pessoas que elaboravam as diretrizes educacionais e os livros-texto tinham uma idéia clara daquilo que pretendiam; o resto, inclusive os professores e naturalmente os alunos, chegavam a altera,r a finalidade da escolarização e da educação. (...) os conteúdos culturais manejados nas salas de aula, (...) não passavam de enunciados mais ou menos abstratos (...) e passavam a ressaltar acima de tudo a capacidade de obediência e submissão dos alunos. Santomé (05-05-2009).

Com o passar dos anos, o sistema produtivo mundial foi se modernizando e nele o operário passou a ser mais ou menos polivalente. Com o surgimento de novas tecnologias e o desenvolvimento de máquinas mais sofisticadas o mercado passou a exigir profissionais que além de operá-las fossem capas de executar a manutenção destes equipamentos. Segundo Santomé (2009), cada modelo de produção requer profissionais com capacidades, conhecimentos, habilidades e valores diferentes e específicos. Pode-se, portanto, supor que como a educação está atrelada ao sistema produtivo, do sistema educacional é exigido preparar profissionais para estas novas tendências. Se o mercado está mais flexível e exige profissionais globalizados, ou seja, capacitados para atuarem em múltiplas funções dentro do sistema, é comum e esperado que a educação se adapte a esta nova realidade.

De acordo com o pensamento do supracitado, muitas das propostas pedagógicas, inclusive as apoiadas e divulgados pelo governo, que tem contribuído para uma maior flexibilidade do mercado de trabalho, só tem sentido se consideradas a interdependência entre a esfera econômica e a educacional. Acredita-se que a educação esteja se tornando mais flexível por exigência das necessidades empresariais. Pois, conceitos e projetos, tais como: autonomia dos “centros escolares”, “flexibilidade de programas escolares”, “descentralização”, entre outros, tem correspondência direta com ações de grandes empresas. O próprio Sistema Educacional é hoje avaliado como se fosse uma empresa qualquer.

Já é possível perceber certa autonomia e flexibilidade escolar, mas é preciso preparar o trabalhador da educação (incluindo-se aqui todos os envolvidos com a atividade educacional) para esta nova realidade. É necessário que os professores sejam preparados para trabalhar dentro de um sistema mais globalizado e se tornem aptos, para que se utilizando da interdisciplinaridade, possam desenvolver alunos críticos, solidários, questionadores, pesquisadores e prontos para enfrentar e vencer obstáculos que se apresentam no dia a dia do aprendente, e principalmente, capazes de refletir sobre aquilo que internaliza. Alunos que não se intimidam diante dos novos desafios que a globalização lhes apresente.

Não é a única forma de se ensinar e talvez nem mesmo seja a melhor, mas apresenta-se como a maneira mais democrática de enquadrar os temas transversais junto ao currículo estabelecido pelas instâncias superiores. Sendo assim, é uma boa maneira de utilizar o tema “Imigração Alemã” e ao mesmo tempo trabalhar a formação do povo brasileiro com sua mistura étnica. Pois o tema permite direcionar os projetos de forma a contemplar também os aspectos físicos, geográficos, sociais, culturais, econômicos e religiosos das regiões que foram palco das migrações humanas, além de oferecerem margem para o uso estatístico e matemático de todos estes aspectos. A partir de projetos elaborados em parceria com o grupo docente e a participação dos discentes, pode o professor preparar e desenvolver seu trabalho e agindo como mediador na busca de conhecimentos, ver seus objetivos contemplados.

A interdisciplinaridade, tão falada, mas tão pouco praticada, não apenas leva a formação mais completa do estudante e do cidadão preparando-o para interagir com as informações esparsas e construir seu conhecimento, como também permite uma compreensão mais profunda das próprias questões especializadas.
Já se definiu inteligência como a capacidade de formular analogias; compete a escola ser o ambiente que forme tais competências criando projetos de estudos multidisciplinares. Seabra ( 07-05-09)


De acordo com o entendimento do supra citado, o ser humano precisa saber que as informações existem e principalmente onde e como encontrá-las no momento em que delas precisar. Fica claro, no entanto, que atualmente não há a mínima necessidade de memorização destas na sua totalidade, mesmo porque seria impossível. Mas apesar de saber de tudo isto a escola continua tentando levar os aprendentes a memorizarem nomes, datas, conceitos, e definições, esquecendo-se que não são meros depósitos de informações desconexas e desinteressantes. E pior, estes estoques produzidos desde a infância em nada auxiliam para a formação de cidadãos críticos e dotados de “autonomia de aprendizagem”. A interdisciplinaridade pode reverter este quadro se trabalhada com flexibilidade e reflexão.

Pois é certo que educação não é mera modelagem de indivíduos ou simplesmente transmissão de conhecimentos. É Muito mais que isto. É a produção de uma consciência democrática e de uma formação cultural capaz de fazer jus ao conceito. A interdisciplinaridade pode levar a esta tão sonhada emancipação. E o tema “Imigração Alemã em Santa Catarina” permite uma longa caminhada interdisciplinar. Para isto bastam olhar os nomes, as regiões, as profissões, as estatísticas, os motivos da mudança radical, como vieram, como se instalaram, forma de produção e como se adaptaram a condição de colonizadores.

Jochem (2007) diz que na maioria das vezes os imigrantes tentaram reproduzir em solo catarinense, com fidelidade, a comunidade de origem. Diz também que já faziam trabalho interdisciplinar na escola que criaram, pois os alunos eram levados a unir teoria e prática pela simples necessidade de sobrevivência de alunos e da própria escola.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES
Em resposta ao problema elaborado neste tema, considera-se que uma boa maneira de introduzir o tema “Imigração Alemã” enquanto aporte para a didática de projetos na terceira série do ensino fundamental é necessário o bom uso das tecnologias educacionais disponíveis, bem como, o uso de projetos interdisciplinares de trabalho.


3.1 Considerações finais
Ao longo do texto vêm sendo apontadas informações sobre maneiras de utilização do tema “Imigração Alemã” em Santa Catarina como conteúdo a ser trabalhado já nas séries iniciais, mais precisamente na terceira série do Ensino Fundamental. Fica evidente que para tanto, não basta a localização do tema em algum livro didático e após uma breve leitura, sufocar os alunos com uma sobrecarga de perguntas desconexas e descontextualizadas. Atitudes deste tipo podem até levá-los a memorização de alguns conceitos e datas consideradas importantes pelo professor, mas que na realidade não levam a um verdadeiro aprendizado sobre o tema em questão.

Evidencia-se, portanto, que as tecnologias educacionais existentes, e aqui não importa se são novas ou antigas tecnologias, se bem utilizadas pelo professor e pelos alunos (sim, pelo professor e pelos alunos, pois ambos terão obrigatoriamente que fazer bom uso delas) poderão e certamente farão com que ambos executem com mais prazer o trabalho a que se prepuseram, e assim caminhem coletivamente na busca da elaboração de novos conceitos ou na reelaboração de conceitos antigos, que ajudem a melhor compreender como o processo imigratório ocorreu e quais os motivos que levaram a desencadear tanto a saída da Europa (Alemanha e demais países de língua germânica) quanto a escolha do Brasil e em especial a Região Sul do país, com destaque especial para a então Província e mais tarde Estado de Santa Catarina.

Como uma das mais velhas tecnologias utilizadas na escola, o quadro de giz, pode perfeitamente ser adaptado a novas situações. Pode-se aqui contemplar a hipótese inicial de introdução do tema nos trabalhos pedagógicos com a série em questão, ou seja, “Relacionar no quadro de giz, nomes e sobrenomes do grupo de alunos” e a partir desta relação, dar início a uma pesquisa sobre suas origens partindo deles próprios. Isto se torna possível porque é raro um aluno da terceira série do Ensino Fundamental (com idade entre oito e dez anos) ter a noção do significado de seu sobrenome, muito menos conhecer a origem deste. É comum a maioria destes nem ao menos saber corretamente os nomes de seus pais. Desta forma, torna-se possível e necessário à elaboração de projetos de trabalho interdisciplinar, de forma democrática e participativa, pois quando questionados, vê-se despertar neles a curiosidade pelo tema, principalmente numa região onde a grande maioria dos alunos é oriunda desta etnia. A curiosidade pode levá-los, e é ai que entra a importante função mediadora do professor, a envolver a família e a comunidade na busca por informações sobre suas raízes.

Surpreendentemente, podem e certamente chegarão à descoberta de que nem todos têm a origem que foram, por desinformação dos próprios informantes, levados a acreditar que têm. Isto os leva (alunos e professores) a redirecionar o projeto para contemplar as demais etnias, cujos antecedentes imigraram para o Brasil e em especial para nosso estado paralelamente a Imigração Alemã, mas que naturalmente se agruparam em outras regiões do estado.

Outro fato interessante é quando algum aluno, que sempre acreditou ser descendente unicamente de alemães, vem a se deparar com a informação de que tem algum antepassado de origem africana. Este fato novamente exige um redirecionamento do projeto para estudo também deste grupo étnico igualmente importante para a formação do povo catarinense.

Desta forma um projeto que pretende trabalhar a Imigração Alemã em Santa Catarina, não importando a tecnologia educacional a ser utilizada, para o bom andamento das atividades, obrigatoriamente deve contemplar a interdisciplinaridade, pois a fragmentação conteudista poderá levar ao estancamento da pesquisa e a quebra do interesse, dos envolvidos, pelo tema. Deve também considerar que crianças desta faixa etária, muitas vezes trazem informações imprecisas exigindo o domínio do tema por parte do mediador. É nele que buscam e é dele que esperam a complementação e a elucidação das informações até então desconexas e sem contexto histórico.

Outro fato importante que se observa ao longo da pesquisa é que em todos os livros didáticos pesquisados, é possível encontrar alguma informação sobre o tema, mas jamais se encontra um conjunto de informações que gere a possibilidade de compreensão do mesmo. Em todos os livros didáticos pesquisados que contemplam o tema “Imigração Alemã” aparecem pequenos fragmentos da história, com apenas uma rápida menção no contexto geral. Tem-se a nítida impressão de que o tema não é importante e que a contribuição desta etnia não mereça maior destaque no contexto nacional.

Só mediante uma pesquisa mais apurada é possível que o grupo encontre informações capazes de levá-los ao entendimento dos fatos e a dar um novo significado para o temo “Imigração”. Permite a percepção pelos alunos de que o tema tem um sentido bem mais complexo do que um simples movimento migratório possa apresentar, ou seja, permite que a mediação do professor leve-os ao entendimento do seu sentido verdadeiro. A entrada de pessoas em um país que não o de origem com o intuito exclusivo de nele construir uma nova vida, mas trazendo consigo toda uma carga social e cultural que certamente terá influência na nova vida a que se propõe.

É possível ainda observar informações desencontradas apresentadas por diversos autores para um mesmo fato, embora a divergência cronológica seja mínima.

A pesquisa proporciona oportunidade de confronto entre informações de autores de diversos livros didáticos e o resultado de pesquisas realizadas por historiadores que procuram manter fiel compromisso com suas fontes e a apresentação do resultado de suas pesquisas, ou seja, não trazem a influencia de nenhum ministério governamental. Trazem sim, um forte compromisso com a realidade dos fatos em seu contexto social, totalmente desvinculados de qualquer ideologia política ou governamental, ou mesmo de interesses regionais, locais, de algum grupo social ou mesmo pessoal.

Com base nestes pesquisadores, se torna possível a compreensão da grande miscigenação que forma o povo catarinense. Permite ainda que o leitor perceba um pouco da grande influência cultural dos diversos grupos que deram origem ao povo e a rica cultura catarinense. Isto fica bastante evidente quando se lê que os imigrantes, cumprindo os interesses do governo brasileiro e catarinense (os verdadeiros mentores e promovedores e na maioria das vezes os provedores da vinda destes), trouxeram consigo suas famílias (quase sempre numerosas), seus hábitos alimentares, suas tradições culturais, suas principais fontes de renda (agricultura, comércio e artesanato), sua maneira de vestir, de viver e de se divertir, ou seja, buscaram transformar a nova terra em uma pequena réplica da terra natal, ou o mais semelhante possível com suas origens.

Ainda hoje pode-se ver estes traços, características marcantes em qualquer comunidade ou cidade de colonização alemã. O leitor que empreender uma viagem pelo interior do estado, facilmente perceberá as características do país de origem da população que ainda predominam nestes locais. Esta presença é ainda mais marcante em pequenas cidades, ou em comunidades interioranas, e no caso alemão, por toda a região da Grande Florianópolis (antigo caminho das tropas), Vale do Itajaí, parte do Vale do Braço do Norte e parte da região de Joinvile. Presença que merece destaque nas festas tradicionais, onde a cultura alemã é evidenciada, quando não surge como única presente, pois nestes momentos tudo e todos lembram orgulhosamente as velhas tradições do país de origem. Este mesmo destaque vale também para as demais etnias, cada qual na sua região. Mas nenhuma delas é tão marcante quanto à tradição alemã e a tradição italiana, sem esquecer da cultura e tradição açoriana.

Considera-se, com estas colocações, que o objetivo geral desta pesquisa apontar maneiras de utilizar a imigração alemã como aporte para a didática de projetos na 3ª série do Ensino Fundamental foi alcançado, visto que a pesquisa aponta maneiras de trabalhar este tema transversal, não como um caroço ou um fragmento indesejável e sim como conteúdo para projetos de trabalho interdisciplinar capazes de atender os conteúdos programados pelo sistema educacional e ao mesmo tempo levar os alunos a conhecerem suas origens.

Em partes, conclui-se que, quanto ao objetivo “Identificar ferramentas a serem utilizadas no processo de aprendizagem para abordar o tema, imigração alemã, na 3ª série do ensino fundamental” a pesquisa apresentou como importantes o uso adequado em sala das tecnologias existentes. Procura ainda esclarecer que toda tecnologia, desde que bem utilizada, é uma ótima ferramenta de trabalho para todos os momentos, mas não deixa de ressaltar que os projetos democráticos e participativos de trabalho são aliados importantes, constituindo-se talvez não na melhor ferramenta, mas na que mais permite redirecionar o tema para os subtemas interessantes na busca dos objetivos estabelecidos coletivamente.

Da mesma forma, o objetivo “Relatar motivos de utilizar a imigração alemã em detrimento de outras etnias sem excluí-las” caminha na busca de informações sobre a Imigração Alemã em Santa Catarina de forma que possa ser apresentado e investigado par alunos da série em questão. A busca é feita, procurando reunir pequenos fragmentos dos livros didáticos oferecidos pelo sistema educacional e confrontados com informações de historiadores de renome estadual.
Quanto ao terceiro e último objetivo específico “Apontar maneiras de contemplar as várias disciplinas com o tema, imigração alemã” a pesquisa aponta para a interdisciplinaridade e sua importância especialmente quando se trata de projetos de trabalho. Mostra que o trabalho interdisciplinar é indispensável num tema como o trabalhado, pois ao pesquisá-lo, tanto alunos quanto professores se depararão com uma enorme quantidade de dados que permitem mediante este tipo de trabalho contemplar as várias linguagens (científica, matemática, linguagem da geografia, da história, da língua portuguesa, da estatística, da música e das artes) sem que tenha que fragmentar os conteúdos.

3.2 Sugestões

Durante o desenvolvimento da pesquisa, percebeu-se que os livros didáticos são falhos no que se refere à Imigração Alemã. Dão aos alunos a impressão que o povo catarinense é formado por portugueses (brancos), índios e negros sem dar o merecido destaque aos pólos de imigração européia que se espalham pelo estado. Vê-se também que os governantes foram desleixados com a educação dos filhos dos imigrantes, fato que os levou a criar escolas próprias e totalmente desvinculadas do sistema educacional brasileiro, visando ensinar seus filhos a ler e a escrever, e isto no idioma alemão.

Fato idêntico aconteceu no Núcleo Colonial de Anitápolis onde a primeira escola fundada por imigrantes alemães, teve como professor um apicultor que após ser convocado pelo exército alemão retornou a Alemanha e morreu em combate. Neste Núcleo, a primeira escola oficial só foi fundada em 1918, ou seja, entre sete e oito anos após a chegada dos primeiros imigrantes chegou a Anitápolis o Patronato Agrícola.

Em virtude dos mesmos, ficam como sugestões:
* É importante que professores e historiadores do Estado unam forças e tentem caminhar juntos para elaborar uma base de dados referentes ao tema “Imigração Alemã” que possa ser acessado por todos.
* É tema para mais pesquisas a verificação de quais colônias fundaram suas próprias escolas e em que momento estas deixaram de existir ou de ministrar aulas no idioma alemão.
* Pesquisar, e incluir nos trabalhos com as crianças, sobre a origem dos Patronatos Agrícolas, motivos de sua instalação em Anitápolis, razões para sua retirada de Anitápolis, existência ou não de escolas similares nos Brasil de hoje.


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Notas de fim
[1].Este ano, 2009, comemora-se o 180º aniversário de imigração alemã em Santa Catarina. Por conta disto, vários eventos comemorativos estão sendo realizados pelo Estado e o início das comemorações aconteceu em São Pedro de Alcântara, em março deste ano.
[2]Este tipo de prática efetivou-se até a atualidade por toda a região e por todo o país. No entanto, hoje os agricultoures pagam um alto preço oelo que lhes aconselharam os antigos dirigentes. As leis ambientais são implacáveis, e se as orientações necessárias mutiosagricultores pagam altas multas por não saberem exercer o uso sustentável da terra.
[3] Desterro foi fundada em 1662 .

[4] Em 1738 Portugal cria a Capitania de Santa Catarina e destina para ela colonizadores açorianos e madeireneses.
[5] A Princesa Isabel nasceu no Rio de Janeiro, em 29/07/1846. morreu na França em 14/11/1921. filha de Dom Pedro II e de Dona Teresa Cristina – Perugine e Vallone (1984, p.143)
[6] Atualmente as leis ambientais não permitem que o agricultor atue desta maneira. Desmatamentos somente com planos de corte e este só são liberados após estudo feito pelos representantes dos órgãos ambientais competentes (IBAMA OU FÁTMA), e não antes assegurado que o proponente cumpra rigorosamente todas as leis ambientais. Na época da colonização, era a única meneira conhecida para limpar os terrenos, embora na Europa não agissem assim, mas por incentivo dos dirigentes das colônias e pela pressa em produzir alimentos para si e os seus, era o melhor procedimento.
[7] Embora a região tenha sido denomiada de Anitápolis, a localidade onde nasce seu principal rio, que origina o Rio Tubarão, mantém o nome de Rio da Prata assim como o rio que nasce em suas terras.
[8] O galpão loclizava-se no localonde hoje seencontra aruaManoel Mariano da Cruz e ocupava toda a sua extensão. Anexo ao galpãp, mais tarde foi cionstruida umaserrariamovida a roda d’água.

[9] O local da edificação do prédio administrativo do Núcleo Colonial de Anitápolis é hoje ocupado pela Prefeitura Municipal de Anitápolis.

[10] Da ponte, não há nem maisvestígios, nãopassa de uma vage lembança contada de uma geração a outra.

[11] A velha estrada da Garganta, na década de 1960 foi completamente abandonada com a mudança de itinerário da SC 407, que passou a percorrer a comunidade de Rio Branco cfuzando com o Camino das Tropas. A velha estrada é utilizada hoje somente por turistas que fazem o percurso a pé ou por trilheiros (motociclistas).
[12] É bastante comentado na região o caso do ex militar do exérci alemão Franz Kern Bohne, que instalou-se com suafamília na comunidade de Rio da Prata e lá exercia a funçãoa de professor veterinário eregente e violinista de uma pequena banda alemão.

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